GOMZEILHOS ÚDEIS do Douktor Otto Müster

GorreSbontende Allemon 3.Nouka zer bonn pricá komm álkeim maize vorlde gue nois.

16.1.10

Poemas



AMIZADE   VERDADEIRA

1. Nobre guerreiro que muito lutara,
Sempre firme em qualquer batalha
Junto aos seus amigos pelejara.
2.  Fiéis que, desde nascidos, criara,
Com muito zelo, amor e fidelidade,
Nas lutas não se viu qual mais brilhara.
3. Eram eles do companheirismo a igualdade.
Grande amor tinham pelo dono.
Vivendo os três unidos na amizade.
4.  Dois lindos animais; nenhum humano,
Cada um deles, um fiel que o amava,
Um belo cão, e um cavalo muito lhano.
5. Do lado do soldado nenhum arredava,
Jamais por algum segundo hesitando,
Atender ao valente amigo que lutava.
6. Mas agora era o tempo festejado,
Da bendita paz que se ansiava.
Época em que se vivia sossegado.

******
7. Assim seguia a vida de forma desejada
Sem perturbações, sem anseios d’alma,
Como quando guerra era travada.
8. Felizes dias de tranqüilidade e calma,
Viviam eles num idílio de felicidade,
Longe das lutas, do ódio e do trauma.
9. Mas eis, que para abalar tal serenidade,
Chega ordem de se fazer apresentado
Ao exército de Sua Majestade.
10. Pois que novo confronto se havia iniciado
Contra tirano que a um povo atormentava,
E devia, sem tardar, ser derrubado.
11. Toda força militar foi convocada,
Para poderem ver tal plano realizado
E saudarem aqueles, a liberdade esperada.
12.  Partiram, pois, o cavalo, o cão e o soldado,
Para cumprir aquela ordem dada.
Orando o guerreiro por força e cuidado.

******
13. Desta vez, porém, na luta malfadada,
Parecia que a sorte com o inimigo estava.
Cada golpe desferido, uma vida era ceifada.
14. Com pouco tempo que o duelo iniciava,
De ser alvejado ao combatente acontece,
Mesmo acudindo os amigos de forma brava,
15. Não resiste o guerreiro e perece.
O algoz, com os animais, irado,
Um só golpe de machado lhes desce.
16. E assim como na vida, cada um ao outro unido,
Cada corpo em grande poça ensangüentada,
Sob a chuva, com barro é misturado.
17. Pouco tempo dura esta empreitada.
E como a derrota era fato consumado,
Batem todos que restaram, em retirada.
18. Uma imagem desolada agora é o prado,
Coberto daqueles com a vida findada,
Que por campa só tiveram o espaço dilatado.

******

19.  No entanto, como na crença dos espíritas,
Cada alma se ergue atordoada,
Sem suspeitarem-se já desencarnadas.
20. Vendo em si mesmos a imagem inalterada,
Juntos começam caminhada bem contentes,
Crendo-se vivos como na noite passada.
21. Um propício olvido lhes toma a mente
Para protegê-los de qualquer mau sentimento,
E Seguirem pela estrada à sua frente.
22. Mas o sol, contínuo e forte, quase violento,
Os vai ferindo com uma sede alargada,
Seguem à procura de algum alento.
23. Após penosas horas na estrada,
Avistam finalmente um pequeno arroio,
Atrás de rica porta em ouro trabalhada.
24. Guarda esta entrada um belo anjo louro.
“Que lugar é este”— pergunta com voz atordoada.
Ao que logo lhe responde o Ser faceiro:

******

25. ”Aqui é o Céu, o Paraíso que te espera!”
Alegrando-se com a resposta inesperada,
O bravo soldado de novo lhe indaga:
26. ”Vimos água em cristalina ribeira,
E nós há muito, temos sede incremente,
Rogamos nos deixar saciá-la inteira”.
27. ”Pode beber o quanto o cavaleiro agüente,
Porém de uma lei deve ter conhecimento:
Aos animais, vedada é esta nascente.”
28. “Assim sendo, agradeço o oferecimento,
Mas sigo com meus companheiros a caminhada,
Buscando noutro local findar o sofrimento”.
29.  Retomaram assim os três sua jornada,
A qualquer ruído de água cada um atento.
Depois de uma mais breve distância andada,
30.  Divisaram pobre casebre estragado.
E em frente sua velha porta de madeira,
Um maltrapilho velho assentado.

******

31.  Ouvindo suave ruído de cachoeira,
Por detrás da velha e rústica tapera,
Ao saboroso som da pequena corredeira,
32. Não puderam suportar mais a tortura,
Com o elmo sob o braço e com humildade,
Ajoelhando-se fala ao homem que espera.
33. “Meu senhor nós vos pedimos por caridade,
Que nos deixe beber deste regato,
Pois a sede nos corrói sem piedade”.
34.  O ancião se ergue sorridente, e, de imediato,
Vem ao soldado e a este, que se levante, manda,
Mostrando sorrindo o riacho que beira o mato.
35.  Os três amigos lançam-se na água gelada,
Logo depois, saciado e muito grato,
Volta o guerreiro para junto da morada
36. “Por favor me diga, oh  homem bondoso,
Que nome tem esta área abençoada,
Para que dela possa dar testemunho honroso”.

******

37. “Aqui é o Céu, o Paraíso que vos esperava!”
Intrigado com a resposta inesperada,
O bom soldado mais surpreso, afirmava:
38. “Mas como é possível, há alguma coisa errada,
Passamos por portal de brilhante claridade,
terra que um anjo disse ser de Céu chamada”.
39. “Enganaste-te este Ser: não é verdade.
Aqui sim é o Céu abençoado,
Lá, o inferno é na realidade.
40. “Mas não devíeis permitir mentira de embusteiros,
Pois muita gente será ludibriada,
E não poucos cairão lá prisioneiros”.
41. “Ao contrário, isto é uma ajuda apropriada,
Pois usando de todos estes ardis traiçoeiros,
Afirmando ser lá o Céu de felicidade plena.
42.  Ali só entram aqueles espíritos interesseiros,
Que, no egoísmo de aliviar somente a sua pena,
Abandonam os seus amigos verdadeiros”.




COISAS INANIMADAS
A casca de uma árvore,
Que viveu aqui no mundo
Mais de cem anos,
Já trás dentro de si
Uma nobreza ancestral
Que respeitamos.
Trago para casa um fragmento
Desta crosta que assistiu tantas histórias.
Com o olhar nostálgico e reverente
Vejo um poder muito além do meu.
Mas não só nesta realeza eu me comprazo,
Senão em inúmeros outros objetos
Dos quais perscruto suas memórias
E quero os proteger sob o meu teto.
Apóia-me alguns livros uma tábua
Que destinada estava ao esquecimento
Na beira da armação de um edifício
Que se ergue indiferente ao resto.
Sobre antiga secretária na minha sala
Navega um barco a vela a todo pano
Transformado em nau de outra madeira
Que estática na rua, era abandono.
Quantas coisas perdidas nesta terra
Ignoradas pela multidão passiva
Não habitaram outrora belas moradas
E entre dedos de crianças ganharam vida.
Pudesse eu, a todas recolhia
Guardando tudo com fervor, vício e estima
Para sentirem outra vez expectativa
De novo início, de matéria-prima.



TRILOGIA DAS MAIS DESEJADAS PARTES FEMININAS



I


ODE À BUNDA FEMININA



Canta oh musa a imagem glútea curvilínea
De duplas faces abauladas, convergentes,
Que como abóbada celeste, reinastes,
Do universo inteiro tendo a primazia.

Feminis traços que inclinados movimentam
O mundo todo que arrasta em olhares
Plenos de anseios e apetites salivares
Dos que te adoram, mas junto se atormentam.

Muitas vezes é tão forte o sofrimento
Que se em coro seus súditos sustentassem
Junto a Zeus que lhe desse confinamento,
E tal como os titãs assim a aprisionasse,

Quem sabe mesmo privados da beleza
Não sofreria o mortal menos flagelos
Em relembrar somente aqueles montes belos
Que outrora viram real, macia, e tesa.

Várias raças, de estirpes mui sortidas,
As quais sempre entre si se digladiam.
Instinto forte, fecundo, faz que surjam,
Transformando barro em ouro como Midas.

A criatura que este atributo leva,
Tanto mais é vaidosa, quão mais mede.
Faz imaginar qual não seria Eva,
Desfilando a prima inclinação no Éden.

Despertando de uma forte anestesia,
Imaginamos Adão extasiado,
A mão tocando com braço estendido,
Linda bunda que inauguralmente via.

Nem Atena, Hera ou mesmo Afrodite,
Pelo príncipe troiano escolhida,
Não têm ou tiveram em divina vida
Nádega assim de um tamanho quilate,


Como viu Páris talvez na Espartana,
Pra jogar pro alto a sua própria pátria,
Roubando esposa de Rei de forma insana,
Enfrentando o furor daqueles Átridas.

Quando Príamo e outros na alta torre
Abstendo-se da guerra, porque idosos,
Ao elogiarem o porte garboso
Da bela Helena por quem sua Tróia morre,

De todas as partes harmoniosas dela,
Elegiam os velhos o seu lindo rabo,
Que levava junto aos trejeitos o fado,
Lançando os Troas em terrível procela.

Do Egito Ptolomeico a nascida
Cleópatra, princesa do grande Nilo,
Para ser de Júlio César a preferida,
Feio assento, ou menor, não terá tido.

Mas como mesmo os grandes não satisfazem
Aquelas que tal magno dote ostenta,
A ver se o Marco Antônio lhe agüenta,
Foi a Rainha vagar por outras margens.

Tentou, em vão, por algum tempo somente,
Exaurindo o pobre com seus movimentos.
Depois de fazer de tudo, sem alento,
Qual último recurso deu pra serpente.

Já o oposto foi Sansão para Dalila
Pois trazia sempre ereto o viril membro.
E por ver belo arrebitamento nela,
Não fugia de cobri-la todo o tempo.

Não podendo suportar tal trepadeira,
Já olhava de mau humor sua retaguarda.
E se era impossível dela perder nada,
Cortou assim de Sansão a cabeleira.

Por fim toda humana história, toda lida,
Que o homem viveu e sofreu na existência
Esteve entregue ao capricho e, em essência,
Também por belos traseiros foi regida.

Certo é que até mesmo na caverna escura
Do neolítico período, os trogloditas,
Selecionaram entre aquelas fêmeas suas,
As que tinham as buzanfas mais bonitas.

E a transgressão, do paraíso, primeira,
Foi por estes glúteos dotes inspirada.
Adão deu mesmo foi é uma enrabada,
Nunca houve nem a cobra ou macieira.

Até hoje neste tempo tão moderno,
Estão os homens em escravidão profunda.
Seguem entre ver o céu, sentindo o inferno,
A cultuar pra sempre a imagem de uma bunda,
Como sendo este o seu destino eterno.


II


ODE AOS SEIOS FEMININOS


Canta oh musa as belas glândulas mamárias
As quais imponentemente se projetam,
E a todos os homens do mundo encantam,
Exercendo atrações involuntárias.

Como luzeiros abençoados da terra
Que iluminam no mundo nosso trajeto,
Faz que qualquer um de nós se alce ao teto,
Se pelo decote os olhos enterra.

Magneto de força esplendorosa,
Arrebata a quem lhe cruza o caminho.
E revelando beleza portentosa,
Hipnotiza e embriaga mais que o vinho.

Sua origem pelos deuses foi traçada
Pra servir a um instinto puro e inato.
Superando foi com o tempo o valor lácteo,
Tornando a própria embalagem cobiçada.

Em vários tipos e estilos se apresentam,
Tendo todos seus encantos atrativos.
Carregando sempre um teor lascivo,
Médios, grandes, ou pequenos, atormentam.

Cada espécie tem consigo qualidades
Muito próprias, valiosas, verdadeiras.
Os pequenos são como preciosidades,
Quais se podem abarcar plena e inteira.

Geralmente trazem estes mais que os outros
Preponderantes mamilos eriçados.
Ao menor toque, como faróis ligados,
Iluminam a silhueta livre e soltos.

Seios médios mostram porte muito nobre,
Transmitindo impressão madura e séria,
Que os divisando logo a nossa artéria,
Com o fluxo intenso já se move.

Apertados em algumas belas vestes
Que não revelando tudo, nada veda,
Pensamos que possam ser a própria peste
Que da estreita via o homem arreda.

Os maiores, quando firmes, tão magníficos
Que parecem preceder quem os ostenta.
Quando naturais são de beleza intensa,
Mas mesmo os com silicone são bonitos.

Vários homens pensam de hora em hora
Nos seus felizes rivais que os tocar podem.
Aqueles pobres então sempre se iludem
Desejando uma utópica “espanhola”.

Seja ele, grande, médio ou pequeno,
É o peito da mulher bela escultura.
Não os seguir com os olhos, pelo que vemos,
Só quando engolidos pela sepultura.

III

ODE À INOMINÁVEL


Cantam os sátiros com flautas dolentes
Aquela que desde as mais remotas eras
Vive e povoa as mentes que, em quimeras,
Sempre desejam lançar-lhes suas sementes.

Deveras assim povoaram o nosso mundo
Aqueles varões que as grutas invadiram
E primeiramente as matas desbravaram,
Penetrando em terreno mui fecundo.

De beleza natural e de textura
Tenra, úmida e sempre aquecida,
Na história do homem e suas desventuras,
Destruiu reinos, fez heróis e homicidas.

Todo homem que cresce e desperta
Para os seus instintos mais imperiosos,
Busca diligentemente e zeloso
Os prazeres que aquela flor lhe oferta.

Esquecendo as suas próprias origens
Que remontam àquele mesmo instrumento
O qual deu ao antepassado em outro tempo
Mesmo gozo, igual carícia, irmã vertigem,

Vai pautando sua vida, sua fortuna,
Na perseguição daquela rubra fruta.
Alcançando-a esquece as coisas uma a uma.
E se muda, quando a toca, em forma bruta.

Na libidinosa essência destes lábios,
Que mais nítidos e pendentes são de fato
Se tal qual fera selvagem está de quatro,
Cai o vulgo, o mediano e os sábios.

Não há mesmo nesta terra um insensível
Que ao peculiar odor não se vê sincero.
Seja o ateu, o agnóstico ou o Clero,
Vão erguendo armas e abaixando o nível,

Quando diante daquela verdade crua,
E cara a cara com sua real metade,
A maviosa e pulsante forma nua,
Devassando exploram a profundidade.

É relíquia que mais que o ouro vale
Para quem incondicionalmente a adora.
É a tal mítica Caixa de Pandora,
Que guarda dentro de si todos os males.

Tem nos seus finos detalhes um micro cosmo,
Governado pelo músculo saliente
Que quando explorado com arte diligente,
Abre os céus em lindo turbilhão de orgasmo.

De todos os ângulos que ela se mostra,
Deve ser sentida ou reverenciada.
Esteja de lado, de frente ou de costas,
Branca, negra, peluda ou depilada,
Só não pode atrair a quem desgosta.

É que o mundo de seres é tão sortido,
Que mesmo sabendo destas qualidades.
Dos incontáveis prazeres lá contidos,
Não podemos ocultar uma verdade:
Que alguns preferem algo duro e comprido.
-->
RELAÇÕES MATEMÁTICAS DA TRILOGIA
DAS MAIS DESEJADAS PARTES FEMININAS.
São Três os atributos femininos cantados. Simbolizam a trindade da beleza da criação e a própria trilogia.
Todas as Odes rimam da seguinte forma:
Utiliza-se a rima entrelaçada e a rima alternada.
1ª Ode — De duas em duas estrofes de quatro versos cada, o primeiro verso com o último e o segundo com o terceiro (ABBA). Chegando a terceira estrofe a rima muda para (ABAB). Esta estrutura permanece durante quase toda a Ode, mudando somente na última estrofe, onde o padrão de rima se transforma em (ABABA), pois a última estrofe tem, diferentemente das anteriores, cinco versos.
2ª Ode — De duas em duas estrofes de quatro versos cada, o primeiro verso com o último e o segundo com o terceiro (ABBA). Chegando a terceira estrofe a rima muda para (ABAB). Esta estrutura permanece durante toda a Ode inclusive na última estrofe, pois como os seios são dois (número par), não cabe a mudança de números de versos, pois isso destruiria a paridade.
3ª Ode — De duas em duas estrofes de quatro versos cada, o primeiro verso com o último e o segundo com o terceiro (ABBA). Chegando a terceira estrofe a rima muda para (ABAB). Esta estrutura permanece durante quase toda a Ode, mudando agora nas duas últimas, que têm cinco versos cada uma, para diferencia-la das demais, no sentido que o atributo cantado nesta Ode é o próprio fundamento da condição feminina, e por isso no título não é necessário fazer alusão ao sexo do qual estamos falando, pois tal órgão só pode existir naturalmente na mulher. Desta foram estas duas estrofes finais somam dez, enquanto a da primeira soma cinco e a da segunda quatro.
Outro motivo da variação numérica é para que exista uma relação matemática de soma e de desenho arquitetônico que podem ser demonstrados através da contagem dos versos de todas as Odes e observando quais são estas relações.
Existe uma relação de número 3 (três) em toda a trilogia.
A primeira Ode soma 81 versos; a segunda, 48; e a terceira, 54.
Somando os algarismos temos: 8+1=9; 4+8=12; 5+4=9.
Notamos que a primeira e a terceira somam 9 e a segunda 12. São, portanto, as duas extremidades diferentes do meio, o que forma um triângulo e assim volta ao número 3. Porém mesmo a soma da segunda Ode sendo um número par (12), para designar os seios que são duplos, é formado por um múltiplo de 3, para que a unidade não seja prejudicada.
Somados também todos os versos das três Odes chegamos ao número 183, que somado perfaz o mesmo número 12, que é o já referido múltiplo de três e que se somado também seus algarismos o resultado é 3,( 81+48+54=183———1+8+3=12——1+2=3). Somando ainda os resultados da soma dos algarismos do total de versos de cada estrofe temos: (9+12+9=30).


-->

-->


UMAS POESIAS
-->
RÉQUIEM
O peso do réquiem de Mozart
Sobre a minha alma
Inatingível
Cheira morte e vida
Percorrendo o passado de
Sua própria vida e
Da minha própria morte
O futuro.
Momentos que consolam
Através de violoncelos
Não bastam para esquecer
O negro canto das vozes
Tão límpidas e sinceras
Com o inevitável destino.
Passagens agitadas
Emergem simulando
Resignação em fugas
Mas se misturam com
O desespero de um lirismo
Ferindo minhas próprias cordas
Expostas aos sons comuns.
Pesadelo réquiem que
Atinge-me a alma
Impenetrável
Não exalas morte nem vida
Passado ou futuro
De sua própria morte
Passada
De minha própria vida
Futura
Morte.

MARMOREA TESTA

Ser estátua petrificada
Erigida no meio da praça
Observando, impassível,
Os dias e as noites escorrerem.
Sofrer a ação do tempo.
Os ventos, as chuvas e o sol.
Tudo isso batendo em minha fronte pétrea.
Ser de bronze, mármore ou concreto.
Não ter desejos e não sofrer a violência.
Olhar para um único lado por toda a eternidade
Vendo as casas se demolindo.
Novos prédios surgindo da terra
Em vertiginosa velocidade
De calendário de cinema.
Ter pássaros morando no crânio.
Insensível ao calor ou ao frio.
Cães e bêbados urinando
Em meu rígido pedestal.
Não ser crédulo ou profano.
Não ter dúvidas nem conclusões.
Ter o olhar estático e vago.
O silêncio de um deus.
Testemunhar por todos os séculos
A transitoriedade dos ruídos.
Ser o melhor e o pior dos prisioneiros:
de mim mesmo, estar cativo.

SER ASSIM

Nunca temer os momentos
não estar desconfiado
do sentimento inventado
que não consigo entender.
Ter a coragem confessa de
sentir por longo tempo
monumental consonância
de todos os meus elementos.
Corrigir o futuro, que é o próximo minuto
antes que ele caia na fatal descrença.
Ter o antídoto eficaz para esse tipo de doença
que não se atreve a sair
do nível da inconsciência.
Correr para o meio do campo
debaixo da chuva
lavando todos os olhos
que se amontoam
naquela antiga vigilância.
Deixar o acaso ocorrer
sem tentativas frustradas
de o manter dentro do ringue.
Acertar com um estilingue
o vaso ruim que não quebra
para depois reatar todos os cacos de louça
formando um jogo bem lento
no qual não sou perdedor.
Não traçar nenhum projeto
para o fim do meu horário.
Ter como pão o sereno e
fazer do dormir o meu salário.
Desvencilhar-me dos entulhos
que trazem as minhas mãos ocupadas.
Saltar para o meio da rua
e me deitar na enxurrada.

VOYER
Terrível é a perfeição da forma,
o perfume inebriante da pele,
o brilho ofuscante
de olhos límpidos
e penetrantes.
Mesmo que me tragam
a mais bela jovem do reino,
a mais pura,
a mais cobiçada,
teria minha vontade,
inerte, paralisada.
Tentaria de todas as formas
usufruir o momento
sorvendo com parcimônia
uma realidade única
em minha memória.
Mas quedaria embebido
numa beleza sem par,
translúcida e fúlgida,
tendo minhas duas mãos
à consciência atadas,
por uma lei da razão.

Malditas são as imagens
Que expõe o oposto,
inspirando brutalidades
impossíveis e reclusas
na sua alma
em diálogo com as musas.

E se de repente
descubro-te
não casta
não pura
mas, antítese destes valores,
revelas voluptuosidade e luxúria,
mais meu desejo se aguça,
mais o rigor me algema,
menos a coragem me ampara.

Antigos dogmas estagnados
lançam-me no vácuo,
resignado.
EM MEMÓRIA
(a um jovem pianista)
Suas mãos perfeitas,
De mármore,
Prontas.
Lindas e silenciosas.
Sonoras como
Uma triste balada,
Lenta e suave.
Suas mãos estagnadas.
Como que capturadas
Em um último
Desejo de perfeição.
Suas mãos lívidas,
Descansadas e
Repousadas
De uma longa batalha.
Suas mãos de herói,
Como aquelas
Que empunharam
A espada da beleza,
Em luta desigual,
Contra os maus sentimentos
Dos tempos e dos homens.
Suas mãos puras,
Transcendentes
Como as músicas
Que jamais tocarão.
Suas mãos sábias.
Afinal, sadias.
De um sentimento
Profundo e Claro
como brilhantes
E esperançosos acordes
Que tocam regiões
Inacessíveis da alma.
Quedam agora
Paradas,
Suas mãos, magras.
Amálgama de
Falanges róseas.

VISÃO


A mais erradia imagem,
A mais tênue,
E mais fugaz,
Não perturba só o meu sono
Ou interrompe a minha prece.
(É muito mais do que parece!)
Não é palácio,
Cetro ou trono
Mas troca em sonho
A minha paz.
Corta a minha espada de prata
Os longos cabelos azuis!
Eu imploro a um deus,
Que nunca ouve, ou socorre.
(meu pensamento morre).
E acabam-se
Os vestígios do dia
Em uma aguda luz branca
Que desmorona as paredes
Do abrigo de vento
Que eu julgara possuir.

TÍTERE

Oscilante e ébrio
atravessas a vida.
Queres devorar
a cada instante,
duende homicida,
a cidade e a carne
que te ofusca,
como diamante,
Expondo-te a ferida.

Corrompido,
mas imune,
viajas lúrido
e transido
ao cume
túrgido
dos desejos,
destilando lutuosa
sombra e lume.

Jucundas cenas
transmudam-te
em colérico
lançando-o
em um prélio
herético,
Contrário
ao seu arbítrio
puro e onírico.

–– Quem te constrange,
à força do gládio,
ao fado imutável
e infrutífero?
–– Quem calca
em ti o cinzel,
sevo e pungente,
para destarte
causar-te labéu?

–– “Um deus,
que, com tétrico cenho,
do alto monte
imprime às cordas
o moto contínuo.
E frio e pujante
impõe-me
desditas
lancinantes!”

ZOÉ
A tarde já caía,
Quando Zoe me chamou.
Pediu que deitando, a ouvisse,
Ali na relva orvalhada.
Eu não queria ouvir nada!
Mesmo assim ela contou,
Para mim o que era o mundo,
Das pelejas, das fadigas, dos receios.
E contando me exortava a ficar
Sempre alerta, a estar de sentinela.
Não cri nela!
Continuei meu trajeto,
Assim meio displicente.
Zoé, então, muito severa,
Com ares de enlouquecida:
–– Tu assim, és um suicida!
Passando foram-se os anos
E eu já, enfim maduro,
Percebi minha imprudência,
Em tatear no escuro.
Zoé cobrou com seus juros
A minha letra vencida
E eu sem força e sem ar:
–– Zoé? És tu, então, a vida?!
Ela, altiva, confirmando,
Com um aceno tranqüilo,
Pareceu por um segundo
Lamentar a minha sorte.
Eu fraco, sem cor, sem rumo.
Pedi mais um breve instante.
Ela, austera, firme e clara:
–– Nada mais, oh insensato,
Tu és agora de Tanatos.
ESQUELETO POTENCIAL
Estranha impressão
Ao tocar com a língua
Os meus próprios dentes.
Parece que não fazem parte
De nenhuma coisa em mim,
Como se algo sintético,
Artificial e frio
Encaixasse em meu corpo
Qual um brinquedo de armar.
A percepção que eu tenho
É a de ser objeto Inanimado,
Peça de alguma realidade dura,
Constatação da matéria crua,
Contrapondo-se aos anseios
Que deveriam povoar
A mente e a alma humana.
Para sobreviver, ignoro,
Por momentos de ilusão,
Aquela aparência finita,
Esquecendo a verdade,
Pra fantasia viver.


-->

UNS OLHOS

Sou uma espécie de vampiro
que se alimenta de um verde-claro.
Muitas vezes me comparo
a uma longa vestimenta,
que nunca mostra o que sugere,
e nem mesmo o que quer, sustenta.
Mas esta cor que me domina,
a qual sorvo com voluptuosidade,
nunca vai além de um sonho,
(resvala na ambigüidade),
de uma forma que alucina.
Noctívago e taciturno,
eu não durmo em um caixão,
pois converso na madrugada
com uma imagem de vento,
oculta pela cortina,
sentindo o toque de uma mão.
E essa tessitura suave,
que me traz um breve alento,
Já vem como que embebida
em uma mistura bem fina,
a qual tomo por ungüento.
Sou um tipo de vampiro
que não carrega o sortilégio
da almejada imortalidade.
Sei que sou, antes de tudo,
uma forma de mentira
banhada em meia verdade.
PROVAÇÃO
Oscilação sensível
que expõe o medo
do que é impossível.
Vincula o nenhum
à vontade.
É ledo
engano
incomum.
Assim a mente burla,
enquanto quedo
em relação perjura.
Quem me dera:
Visível e nítida como o uno,
minha vida, pura!
PINGENTE DE DEUS
Vives oscilante
Bêbedo do nada!
Sem álcool, sem ópio,
Na cidade ofuscante,
nas noites perdido.
Sem paz ou tédio
No tremor do corpo
Que carrega consigo.
Sem Rum,whisky,Tequila.
(sem rumo hesitas)
— quem te dera
Bêbado de fato e de bafo!
Mas esta outra
Embriagues perene,
Destila um sentimento
Solitário, universal e grave,
Que te prostra no vácuo.

PRECE SUREALISTA

Bem que eu sabia
Que na lata vazia
Ainda morava alguém.
Toda manhã me trazia
Alguma notícia do além
E com sua boca sorria,
Cuspindo na ponta dos dedos.
Amém.

ABDICAÇÃO

Tenho que correr
Pois que o tempo
Encurrala.
(não adianta um livro noutra sala).
O gênio de mil pessoas
Não perfazem o regozijo
Do homem que nada sabe,
Lá no seu esconderijo!
Livrai-me deuses de todos
De um eterno engano.
Castiga-me, se é preciso.
Mas destitui-me de ser, humano!

DIVERGÊNCIA 1985

O que tenho eu com o mundo
Que não me deixa calar?
Ontem na fria noite
Tive esperanças sinceras
Mas não tive o cuidado
De as resguardar.
Se eu beijo ou não beijo
Suas fatais faces frias,
Nem por isso as temo,
Nem assim, não as quero,
Nem tão pouco me canso,
Cansado de esperar.
O problema é que o copo
Parado na mesa
Nos fita impassível
Com seus olhos vítreos!
O que tenho eu com a vida
Que não posso evitar
A rivalidade reinante
Entre o meu e o seu olhar?
Olhe bem para o povo.
Veja bem estas casas
Escondidas na esquina.
Já parou pra pensar
Que casas são copos
De vidros noturnos,
Com frios dilemas
De desesperanças,
E falsas manhãs
perdidas nas ruas,
Onde carros transitam,
Após a meia noite,
Retornando dos bares
Sem medo nenhum?
E que sem percebermos
Já nos separamos
E voltamos para vida
Sem fôlego algum?
FADO
Tudo é burla
Na vida inglória.
Momentos...
luz clara!
Então se pára.
Refletindo
Na derrota
ou na vitória.
Neste trajeto,
com o acaso
se depara
a nossa curta história.
visão turva,
ilusória,
num átimo, nasceu
e já findara.
Animados pelo sonho
caminhamos
no nada
que só se revela
na última hora.
De utópicos projetos
naufragamos.
Este é o homem?
O que em vão procura?
Mesmo correndo
O que o espera?
Seu último berço:
a sepultura!
INVEJÁVEL VIDA
O inseto é detentor
De perfeita natureza.
Dentro de nós, como em sonho,
Dorme sempre a incerteza.
O inseto, ao contrário,
Voa e revoa por vontade,
Em derredor de muitos olhos,
Nunca sentindo, como nós:
saudade.
O inseto luta no ar,
Para além da claridade.
Depois vai embora, sem pensar,
No bem no mal, ou na verdade.
Contenta-se, o inseto,
Com o existir no seu mundo,
Que não é assim complicado,
Mas real, vário, fecundo.
Vendo tanto poder eu penso:
–– Quem dera trazer também,
Asas duplas, finas, velozes.
E com a brisa mergulhar
Na imprudência do profundo.
BELAS PALAVRAS BELAS
Preciosos
Colares reluzentes
Com madrepérolas
Que adornam
Silhuetas de
Meretrizes.
Florestas verdes,
Vertentes a descer montanhas
Íngremes,
De esmeraldas luzidias.
Retilíneas esculturas,
Que transcendem,
Noturnas mensagens límpidas.
Bruma espessa de coragem plena.
Diamante escarlate e negro,
Como coleópteros de
Exoesqueleto.
Selvagens estruturas oceânicas
De mistérios impossíveis,
Que trafegam no intelecto
Do ritual brilhante.
MINAS, GERALMENTE, MINHAS
Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha”.
Casimiro de Abreu
Minas Gerais não é minha somente,
E tal também eu não quero,
Pois não teria na mente
Ou no peito,
suficientes
Acordes para cantá-la.
Minas,
Sois vida calma e
Simplória.
Qualquer coisa
Em minha memória
Que geralmente me falha.
Minas Gerais,
Minhas gerais minas.
Gerastes em mim poesias,
Com ou sem rimas,
Ou coisa que o valha.
E este mineiro sentimento incerto
Decerto que o trago comigo,
E por ser ele assim tão indefinido
É que inconscientemente me obrigo,
Cada dia mais,
A ama- la.
JOGO SUBSTITUTO
Os meus cabelos grisalhos
São velhos pra amarelinhas,
Então me divirto traçando
No papel algumas linhas.
Dizem que hoje a poesia
Não pode mais fazer rima,
Que branco como o papel
É o verso moderno. Coisa fina.
Já escrevi sem rimar
Neste livro mesmo o fiz,
Mas confesso um gosto antigo:
Combinar me faz feliz.
Por isso como no jogo,
De céu e inferno, invento,
E no caderno com a tinta
Pular todo o trajeto eu tento.



ESCARAVELHOS

Um casal de velhos mira o espelho.
Esperam da morte a vontade.
Na avançada idade,
o reflexo é de rugas
e rosto espantalho.
Embrutecidos, apáticos,
quitinosamente
cristalinos e impermeabilizados
já não têm anseios, caralho!
Ele: pelos brancos, pênis flácido.
Ela: murchos seios, um bagaço.
Nada de novo
senão tal qual num ovo
do esqueleto a promessa.
Ex sexo, Ex vida, Ex corpo.
Somente sulcos na face
que já não lhes é cara.
Ex cara: velhos



INTERLÚDIO I


Minha música é efêmera.
Só assim a sei criar.

Ela ecoa do piano
diretamente no ar.

Desfaz-se após circular
revolta, calma, nervosa ou plana.

Só assim minha música pode viver.

Assim morrendo enquanto nasce.
Deixando um rastro
que apaga ao se mover.

Se diluindo como névoa
na sua insignificância amena
que desculpa o seu som.

A minha música é mortal
tal qual qualquer organismo.

E igual uma bactéria
sensível ao oxigênio,
é sufocada pelo tom.

Ao sair de seus espaços
onde repousava
trancafiada,
ela é música que,
depois de alguns
minutos,

é nada.





20: 06


Tempo que pára por um único instante
Quase imperceptível põe em movimento
O estático infinito
Que somente com a atenção precisa e constante
Supomos perceber
A face de outros dias
De outros meses
De outros anos
Tentamos ler no rosto que restou
E a dúvida sutil que é quase certeza
Faz nos enxergar com nitidez
Uma tranqüilidade conquistada
Agora para sempre
Mantida cativa
No nada.

Nenhum comentário: