GOMZEILHOS ÚDEIS do Douktor Otto Müster

GorreSbontende Allemon 3.Nouka zer bonn pricá komm álkeim maize vorlde gue nois.

16.1.10

Filosofia de Desocupado

do


Mestre das InQuIeTaÇõEs


Novo Papa eleito no conclave de Dó :

"FLAVITVS I " 

fala pela primeira vez aos fieis:


"considerando que a linha do equador se transportada para as proporções humanas ( o que é justificado pela conclusão de Protágoras de Abdera que reza que o homem é a medida de todas as coisas) ; concluímos que a linha abstrata que circunda o planeta terra o dividindo em dois é apenas uma representação da linha ideal que corta o corpo do homem e para esta demonstração preferencialmente o corpo do gênero feminino, esta linha passaria logo abaixo dos seios. Segue daí que se o homem (gênero masculino) tocar os seios de uma garota ele peca; mas se tocar qualquer outra parte abaixo desta linha, ele não peca, por constar dos sagrados documentos, o sábio ensinamento de São Ney Matogrosso: " não existe pecado do lado de baixo do equador"

Da Primeira Encíclica " peccata non infra equator"








O PERU NÃO MORRE DE VÉSPERA



As pessoas dizem que somente o peru morre de véspera. Mas este ditado usado há tanto tempo está errado, totalmente errado. Pois veja: Se o objetivo é dizer que ele morre na véspera do natal então não se refere à sua morte ser antes do dia dele morrer, mas sim que ele morre um dia antes do natal. Mas não querem expressar isso ao dizer “somente o peru morre de véspera”, e sim que ele morre um dia antes do dia que ele teria de morrer. Onde está o erro gritante nisso? Simples, o peru morre um dia antes para poder ser preparado, ser temperado para depois estar pronto para ir ao forno na noite de natal, sendo assim, ele morre exatamente quando tem de morrer, um dia antes do natal para que se tenha tempo para o seu preparo, pois se o dia dele morrer fosse o dia de natal não daria tempo de prepará-lo. Logo, o dia do peru morrer é na véspera do natal, mas não véspera do dia dele morrer porque o dia dele morrer tem de ser o da véspera. Agora se argumentarem que estão se referindo que ele morre na véspera de um dia especifico, neste caso, o natal, então todos os animais e todos podemos morrer na véspera do natal ou de nosso aniversário, e em última análise, todos morremos na véspera de alguma data, por mais comum que ela seja, aliás, quase todo dia é dia de algo, então podemos morrer na véspera do dia da criança, ou do dia das mães ou do dia da secretária. É claro, pois que a intenção do ditado citado é dizer que ninguém morre antes da hora, e que somente com peru isso acontece. Porém penso ter provado o contrário demonstrando que o dia do peru morrer é o da véspera de natal e, sendo assim, ele morre no dia que tem de morrer e não na véspera do dia que teria de morrer, pois este dia seria um dia antes da véspera de natal, e neste dia ele não morreu ainda.





LOUVADAS SEJAM


Louvadas sejam as mini-saias. Para sempre sejam louvadas!
Benditos os deliciosos frutos que anunciam e proclamam,
Através da contemplação das
Coxas grossas,
Por meio da visão
Dos pequenos, claros e esvoaçantes pelos dourados.
Sejam para sempre louvadas as mini-saias.
Louvadas sejam as mini-saias
Que aguçam nosso apetite
E nos fazem pecadores.
Rogai por nós.Rogai por todos nós
Que perseguimos com os olhos
As meninas
De silhuetas delgadas,
De cinturas curvilíneas
E quadris largos.
Benditas sejam
As mini-saias
Agora, na hora da nossa sorte,
E louvadas sejam elas
Até no momento de nossa morte
[T]am[b]ém.




Ensaio Para Uma Carta de Despedida




Ninguém sabe o dia em que morre. Talvez alguns que de antemão sofrem de alguma doença grave que realmente pode ser considerada um vaticínio têm alguma idéia mais precisa, ou pelo menos, uma percepção muito mais acurada de quando será este dia. Existem, é claro, exceções nos prognósticos, os quais podem errar, como também é certo que o dia exato não pode ser precisado. Mas hoje com o avanço cada vez maior da medicina, que também pode possibilitar inúmeras curas, irônicamente, dificilmente ela erra em anunciar a data próxima da morte. Estes que passam ou passarão por esta situação, têm uma espécie de maldição e benção. Confesso que se tal acontecesse comigo, se eu viesse a ficar sabendo que teria, suponhamos, mais um ou dois anos de vida, ficaria muito triste e talvez sucumbisse à depressão profunda. Mas ao mesmo tempo, e estou quase certo disso, não seria a época de colocar algumas pendências em dia, rever amigos antigos, falar aquilo que calamos por tanto tempo, por uma espécie de vexame idiota e inútil, pudores atravancadores? Seria o caso também de uma oportunidade de notarmos mais conscientemente o ridículo que existe na vida cotidiana cercada de tralhas por todos os lados, como copos de plástico, enfeites de geladeira, tampas de recipientes, sofás e bugigangas acumuladas, muitas das quais teríamos certeza que sobreviveriam a nós. A morte súbita e inesperada, aquela acidental, causa sem dúvida muito maior comoção e mais desespero dos que ficam vivos e têm laços fortes com as vítimas. E muitas vezes ela surpreende de tal forma que nem nos damos conta que o indivíduo que morreu, acaba antes mesmo da validade do último queijo fresco comprado dias antes. Pensando hoje em tais coisas realistas (e não mórbidas), passo a imaginar-me como um personagem que está para morrer, como de fato todos estamos, e, aliás, todos nós temos muito mais experiência em estarmos mortos do que vivos. Eu particularmente, estive morto durante todo o período pré-cambriano, estive morto quando Sócrates ensinava de sua maneira mâieutica para ouvintes talvez embasbacados. Morto estive na época das grandes navegações portuguesas e espanholas. Por morto permanecer, não assisti à estréia do Dom Giovanni do meu amigo Mozart e não pude aplaudir de pé e com lágrimas nos olhos a última sinfonia do grande Beethoven, enquanto este era virado para a platéia para poder ver os aplausos entusiásticos que não podia ouvir. Não pude, por teimar neste estado mortuário, observar, mesmo que sem coragem de me aproximar, o meu outro íntimo amigo Machado de Assis, enquanto este folheava livros em uma livraria na Rua do Ouvidor, quem sabe acompanhado de seu guarda-chuva. Mais recentemente, ainda estava totalmente morto enquanto outros morriam já pela sua segunda e definitiva vez, quando o Titanic veio a pique. E já, quase às portas da interrupção momentânea de minha morte, não vi lançarem a pedra fundamental de uma nova capital no meio do nada, no País onde o acaso me faria acordar interinamente do estado de morte. Felizmente, por uma fração de meses, eu ainda não havia saído deste estado de óbito para não ter de assistir ao infame golpe militar de 1964. Mas era tempo de fazer minha pausa da mortal condição, e em dezembro daquele ano eu interrompia minha morte para viver as desventuras atrapalhadas que ainda serão tema de muitas histórias a serem contadas para a diversão dos amigos mais próximos, embora, tecnicamente, eu já vivesse desde abril no ventre materno. Mas também de alegrias foi e está sendo feito este meu interlúdio de vida, proporcionadas a mim pela minha filha, esposa e familiares, sem contar, os poucos, mas valiosos amigos. Agora, considerando hipoteticamente que eu fosse um destes que têm a próxima morte anunciada, passo a relatar nessa espécie de carta aberta, a minha despedida e algumas considerações finais. Em primeiro lugar afianço que a tristeza e depressão que poderia se apoderar de mim por saber com um certo grau de precisão a hora do passo extremo, estariam ligadas a, por exemplo, ao fato de que eu, se pudesse ter consciência do que perdia, choraria copiosamente pelas fortes chuvas que eu não mais pudesse observar da janela, sentindo o ar frio e os respingos de água na face e no peito, enquanto olhava a densa enxurrada carregando copinhos de iogurte, sacolas plásticas, e pedaços pequenos de madeira como se fossem barcos em uma corredeira, que eu estaria (se pudesse ainda) acompanhando com os olhos estes objetos, até que não os pudesse mais divisar (que me perdoem os ecologistas. Também sou contrário ao lixo nas ruas, mas um costume prazeroso da infância não é facilmente calado em nós em favor de uma consciência ambiental). Saudades eu sentiria é das árvores e dos pastos nos quais andamos tanto em meninos. Do cheiro dos eucaliptos. Nostalgia de pequenas incursões nestas matas com meu saudoso tio-irmão, onde ali, catávamos do chão algo que conhecíamos como “orelha de capeta”, e lançando-as contra os troncos das árvores vibrávamos com a explosão que liberava um pó amarelado e marrom que parecia ser a cor do próprio diabo. Momentos que seriam inesquecíveis, com “R” (se a morte da eletricidade do cérebro não nos desligasse totalmente como qualquer máquina) que foi e é até hoje a melhor e mais compreensiva companheira de jornada. A filhota, com a qual o acaso nos premiou, como seria inesquecível, se o cessar da vida admitisse coisas inesquecíveis. De minha irmã, sempre ela, na sua, legal, amiga. Do meu velho pai, hoje doente, e que foi o que pôde ser. E se algumas vezes foi bandido, foi também herói, e se tinha maus humores, tinha também cumplicidade para juntos assistirmos comédias e conservarmos até hoje alguns gestos de “chavões” inesquecíveis destas. O que, aliás, faz lembrar outra coisa que deixaria saudade. Os filmes e os livros. Para a minha mãe, somente o beijo e o abraço silencioso de quem não tem palavras para agradecer o amor incondicional. Toda a família, muito particularmente meus sobrinhos queridos, fariam muita falta, não fosse a exclusão total do meu ser. Ao meu irmão, sempre generoso no coração e amigo de conversas e, talvez, o meu maior antagonista em idéias, aproveitaria para além de mandar meu abraço forte, reafirmar para ele e de forma definitiva, mano, que volto a morrer Ateu convicto, assim como antes deixei a morte de forma provisória, pois que todos nós (até você) nascemos, ou melhor, deixamos a primeira morte, ateus e o somos até que nos são incutidas as superstições perniciosas e cruéis de algumas idéias (não de todas), notadamente a idéia de deuses teimando em desvalorizar justamente estes momentos maravilhosos que temos no intervalo entre nossas duas mortes, com promessas improváveis de um mundo fictício que, aliás, não consigo ver em nenhuma descrição escrita ou narrada oralmente por clérigos, qualquer atrativo que supere nem de longe, uma boa caminhada com um cão que corre feliz adiante de nós, e vez por outra, entre algumas farejadas volta os olhos sinceros (como poucos de qualquer humano), para verificar se o seu amigo ainda o acompanha. Nenhuma promessa de estar junto a anjos e deuses, coroas de ouro, e rios que manam leite e mel (sobretudo para quem tem pouca simpatia pelo que é doce e sofre de intolerância à lactose), nada disso supera a satisfação de após virar algumas páginas de um livro que se aprecia, cheirar as folhas recém impressas, dar uma pausa na leitura, colocando cuidadosamente o marcador entre elas, e dar uma chegadinha até a cozinha para tomar uma boa xícara de café com bolo, pão e manteiga, e algumas quitandas. Resta dizer do enorme prazer, que no meu entender, e no meu ceticismo para estas mitologias, não poderia ser superado pela presença de nenhuma divindade: o gosto pela prosa com os bons e verdadeiros amigos. Noites longas de papos que abarcaram assuntos dos mais variados, desde os mais complexos, até os mais leves, com os amados amigos“WB”,“AB","DB",“FA”,“EB”,"M[a]R”,“AM”,“BB”,”ER”,“DomK”, (com certeza esqueci alguns muito importantes), com os quais dei e ainda dou boas risadas, ouço e conto piadas, muitas alegrias e mesmo tristezas. Conversas de todos os assuntos: sérios, idiotas, curiosos, irreverentes. Sim. Certamente seriam muitas as saudades se eu não tivesse plena convicção que simplesmente retorno à morte que deixei apenas por alguns anos e em acabando os impulsos elétricos que comandam o meu cérebro e me fazem apreciar tudo isso que descrevi, então tudo volta a ficar estático. Corpo incinerado, cinzas lançadas em algum jardim com sombra de árvores (não por eu poder aproveitar alguma sensação, mas por memória de quem fica do que me era caro). E o nada. O nada, que nada pode desejar ou sentir. Não pode sofrer, amar ou lamentar-se. “O resto é silêncio”.
A Sobrevivência de Um Incapaz

Acordei pensando em uma coisa. Estive avaliando meu desempenho durante toda a minha vida até aqui. Recordando meus fracassos na escola, minhas tentativas frustradas de executar bem um instrumento e meu eterno papel de paspalho em muitas situações. Notadamente tendo um olhar especial para a minha sempre e constante falta de aptidão para a prática de qualquer esporte, até mesmo o xadrez (que não exige maiores habilidades físicas) no qual nunca consegui avançar além do nível de um jogador elementar, mas seria mais apropriado designar-me com um Rating denominado “sofrível”. Sobretudo destaquei-me pela minha completa incompetência para esportes que exigissem algum movimento físico. Completa inabilidade com bola, tacos de bilhar, cartas de baralho etc. E é claro aquela, que talvez, tenha sido a pior de todas as minhas piores frustrações, a falta de tato no trato com as mulheres. Lógico que ainda tenho muito desta falha, mas com certeza ela foi superlativa na adolescência e na juventude, quando me parecia que todas as meninas quando riam, se eu estava em um raio de pelo menos uns cinco metros (ou até mais), com certeza riam de mim. Isso eu “achava” naquela época, hoje tenho certeza que estavam rindo de mim mesmo. Matemáticas, idiomas, geografia, história, sempre fui fraco. Português? (não se enganem: se não aparecerem aqui erros de ortografia foi graças ao corretor ortográfico do Word, para sempre seja louvado). Em criança, pasmem, e não pensem que eu minto, fui um garoto que nunca soube fazer um papagaio (papagaio pipa, não ave). Mas tive uma maritaca, a qual (e nada me tira isso da cabeça) eu matei. Sim, eu que hoje sou um defensor de todos os animais (nós entre eles), pois então, nada me faz desacreditar que fui o responsável pela morte da minha maritaca. Como? Inocentemente. Ela assobiava e batia as asas quando me via mascando chicletes. Eu, com pena do bicho, e talvez sugestionado por alguma superstição incutida em mim na mais tenra infância e que ditava que a vontade comer algo pode levar até a morte, ia recortando fragmentos quase microscópicos daquela massa de mascar e os dava para o pobre animal. Não houve autópsia. Mas acho que com o tempo algum transtorno digestivo fez com que o pequeno animal ficasse doente tivesse algumas poucas crises convulsas por uma noite e, se me permitem a expressão, acordasse morto. Pelo menos teve uma morte marcante, pois sucumbiu o animal em 1977, no mesmo ano em que o mundo perdia Elvis Presley. Se isso for computável para meus fracassos, já ouvi que tem maritacas (não só papagaios, este ave, não pipa) que falam. Bem, a minha nunca falou. Gritava muito, mas, definitivamente, não tinha uma voz que pudesse rivalizar com o seu famoso companheiro de ano-óbito. Mas voltando um pouco no tempo, eu não só não sabia confeccionar uma pipa, mas fazê-la levantar vôo, eu não me lembro de jamais haver conseguido. Guardo na memória a sensação de segurar a linha com pressão, estirada, e lá no alto, no céu azul, um pontinho colorido sobrevoando todos nós e todas as coisas. Mas para sentir isso eu tinha que passar por uma espécie de humilhação e pedir para segurar um pouco o carretel ou a carretilha depois que algum amigo muito mais hábil já colocara o papagaio planando nas alturas. No futebol tenho um recorde: o único brasileiro que jamais fez um gol. Nem em uma única pelada de rua, daquelas que colocávamos duas pedras ou dois chinelos para formar a trave e jogávamos num campo de paralelepípedos, saudosos paralelepípedos! Meu irmão era goleiro, jogava para um time da cidade, eu não tinha autoridade nem para citar a palavra futebol perto dele. Não falo completamente a verdade sobre algumas de minhas conquistas, pois algo ninguém pode nunca tirar de mim, nisso fui melhor que meu irmão mais velho e que minha irmã mais nova: eu fui o filho da mãe que mais se machucou. Era tombo de bicicleta, cortar pé em caco de vidro, e levar ponto sem a anestesia pegar. Uma agulhada, um grito, um derramamento de mercúrio, um alívio. Tive a incrível capacidade de ser atropelado por uma bicicleta em frente a minha casa jogando bola. Uma bicicleta, destas muito magrelas, bicicleta peso pena, praticamente somente tocou em minhas costas, e eu, peso “fio-de-cabelo”, cai com a testa na rua calçada com alguns, nada saudosos, paralelepípedos. Sobrevivi. Meu pai pegou o carro (não antes de tomar um cafezinho: testemunhas podem confirmar), e minha mãe embrulhou minha cabeça em uma toalha branca que chegou vermelha no Hospital Regional. Eu gritava a todo pulmão num choro terrível entremeado com afirmativas de que eu ia morrer, enquanto minha pobre mãe afirmava que Nossa Senhora não ia deixar. Eu, menino, desde então, já fugitivo do catecismo, não me fiava muito nisso, Mas as mães conseguem coisas sobrenaturais mesmo que elas não existam. O fato é que não morri. E apesar de vários pontos e um galo dolorido eu tive uns dias de liberdade longe da escola, e, já fora do perigo iminente da morte, pude pensar: bendito paralelepípedo! Sim, porque a bicicleta e o seu condutor foi só um instrumento para me atirar contra o calçamento da rua. Há muito já o perdoei. As histórias são muitas, que passam por gases enganosos que sem nos darmos conta eles se transformam, como por mágica, em algo, meio líquido, meio sólido, que começa a escorrer pernas abaixo, em momentos mais do que inoportunos (geralmente com meninas por perto). Professoras que encontraram lêndeas na minha cabeça e em uma demonstração invejável de psicologia da educação à moda militar gritaram: “você não lava a cabeça, moleque!” como a lista é infindável eu prometo para quem gostou de ler, uma, ou mais de uma continuação de minhas façanhas de menino-Quixote. Há muitas coisas para contar, como as penúrias que vivi numa época que acompanhava um primo que sempre se dava muito bem com as meninas, catava todas, era bonitão e tinha o dom da conversa com o sexo oposto, enquanto eu ficava apenas olhando e me lamentando. Ou sobre a primeira vez que beijei uma garota e de como tive ânsia pra vomitar, o que fez com que eu passasse alguns meses em um difícil dilema imaginando se eu era ou não gay (e eu ainda nem conhecia Hamlet). De como levei de uma vizinha, menina também, um soco no nariz o qual me arrancou sangue, que estancou logo, mas que de como também continuei vertendo por ela uma admiração por sentir que ela era uma das minhas primeiras paixões. Por hora basta dizer que o que me motivou escrever estas primeiras lembranças de minhas manias de meter os pés pelas mãos, foi o que já comentei no início do texto. Que hoje eu acordei pensando em uma coisa. Este pensamento que me intrigou se resume nisso: como foi possível que ao concorrer com milhões de outros espermatozóides em uma corrida alucinada, frenética, sem pausa ou trégua, aquele que viria a se transformar em mim, conseguiu vencer e chegar antes de tantos outros que poderiam ter sido, quem sabe, grandes concertistas, astros do basquete, campeões de xadrez, artilheiros no futebol, boxeadores, Casanovas, ou sabe lá mais o que? Então chego a uma primeira conclusão não muito favorável, que mesmo sendo eu um evolucionista convicto, sou obrigado a admitir que se a luta pela sobrevivência do mais capaz começa já no útero, este detalhe escapou ao meu amigo Darwin.


Recado a Um Gêmeo Adotivo


Na sua roça sentimos o passado de um sonho real inalterado no espaço. Embora transformado pelo tempo. Mas alegra-te, meu amigo. Foi e é feliz por ter tido a sorte que acompanha os fracos de dureza que têm os corações fortes. O que seria tua vida se outro caminho houvesse escolhido ou tomado por obediência ao acaso? A longevidade é bem vinda, mas não ao preço do nada. Pensa, pensa e pesa. Mede o amor que tivestes e o que tens agora dos teus amigos, dos teus pais e da sua amiga principal, companheira escolhida, que também te escolheu para este caminho que viajam agora juntos. O resto? O resto é nada, pois, meu bom amigo, calcula, reflete e pesa. Soma todos os gostos dos homens em todos os tempos e vê se o queres? Se morrermos hoje, sejamos sinceros: vimos, ouvimos, rimos e até mesmo amamos o que muitos desprezariam. Pensemos: apreciamos as inutilidades deliciosas que a vida oferece longe da igualdade que quase todos estão acostumados. Futilidades transatlânticas de tanta pompa, mas que para nós não pode ser mais valiosa que uma única cena que vivenciamos juntos como amigos dando risada de algo absurdo que nascia em nós mesmos. O tempo eterno não pode valer os seus anos de infância à beira do mato aguardando o doce que nasce lentamente no tacho, o galope à cavalo e a imagem da pedra quicando no lago tendo como única trilha sonora o vento e o aroma de árvores. Do fundo do meu pensamento (que alguns chamam coração) é o que eu acho. Agora tenha a luz dos olhos lúcida e verídica. Continua e segue modificado e igual, mesmo outro em necessidades, permanece o menino caipira que em ti não morre e também não desaparece do sentimento sincero de empatia reconhecível e sólida daqueles que realmente admiram a sua individualidade que também é a deles e por isso é amálgama de sentimentos únicos.





Olhos invertidos




Prisioneiros de nossas cabeças quebradas como o quebra-nozes sem lua e sem mosto, ou qualquer outro elemento que finja ser transubstancial, paramos estáticos com a mão estendida para o notório óbolo que se deve pagar. Não, não nos enganamos. Estendemos as mãos para receber o que deveríamos dar. Olho no olho do tigre e suas listras embaralham a nossa vista. Qual é o momento ideal para desistirmos, recuarmos ou com coragem abraçar o belo animal, nosso irmão? Coragem? Sim, esta nos falta sobremaneira. Mas aqueles dentre nós que sabemos-nos iguais a todos os outros seres, lamentam que o lindo animal não nos reconheça como tal, impelido por anos a isso por uma desconfiança mais que justificável. Ele não aceitaria o abraço. Inimaginável sensação de igualdade e mesmo de inferioridade nossa poderíamos imaginar mesmo sem poder experimentar o contato físico. Quiséramos respirar junto com o grupo deles, chamado selvagens [desde que somente por os entendermos não domesticados], o mesmo ar, olhando para copas de árvores da densa floresta.
Vôo acima dos montes verdes ou brancos. Muito acima dos deles, vôo. Mas meus pés, curiosamente, resvalam no chão de terra batida. Sei, por alguma razão não clara, que o ar que eu respiro está sendo ventilado por toda a terra. A vontade que se tem é de lançar-se e planar acima de nossos mórbidos desejos. A consciência da precariedade e da mínima conformação elementar não me é estranha. Nem a mim, nem a mim mesmo. Atenta ao silêncio meus amigos, que ele revela os melhores sons. Aqueles que são, talvez, os únicos que podemos chamar música pura e audível. Deita na grama, meu irmão, sorri para dentro. Descobre o seu “não-intelecto”, para que refresque a sensação que trazia daquele carvão fumegante na garganta. Soltemos o nó górdio e lancemos a nau ao mar.Quando é mais comum o importante projeto que ronda a sua expectativa, pensa no único bem que talvez te reste e observe a mistura do todo do mundo que é a tua única casa. Tenha a clareza no olhar e a nitidez convicta que somente compartilhas a terra, mas que ela não é só tua, mas de todos os animais e plantas e água e montanha, e fogo e pedras. O que ainda agora te pareceu ínfimo é o mesmo que deverias concluir grandioso, pois só através desta percepção se pode crer sem precisar de crença, mas observação. Então cuida para que tudo o que é essencial não seja menosprezado: aprende que o essencial é tudo que tem a sua participação de vizinhança e de irmandade com seus desejos sinceros e não egoístas de admitir-se apenas mais um elemento natural, precioso, mas finito.

καλός είδος σκοπέω


Muitas vezes quando olho muito pra uma claridade com fundo azul sem nuvens abrigado no meu refúgio sem sol minha vista cansada divisa luminosos pontinhos frenéticos que dançam e eu penso que é possível escrever uma carta de proteína para quem não tem pensamento ruim Mas logo junto com as estrofes que me atormentam dia e noite depois de se encravarem em minha mente eu sei também que o cerco está se fechando e que a bondade nunca é recompensada E formas que se espalham no chão do banheiro ou no cimento da calçada vigiam pra vigiar apenas o sossego que não podemos ter de deixar simplesmente as coisas existirem E o físico sentimento lhe aferroa a carne como um estigma e mesmo pensando na sua parte de culpa circunstancial pelo que você lê todos os dias nas folhas de notícia sobre fome assassinato destruição e doenças não e isso suficiente pra que não se sinta desprovido de uma boa sorte mesmo que em análise sensata e ponderada você a tenha indubitavelmente Como quando já admitiu diversas vezes que a paz não depende só da tua vontade e a riqueza não pode passar por seu escrutínio seletivo e outra função decorativa poderia haver se a cabeça mostrasse descansar as matemáticas rudimentares de placa de casas e automóveis já que agora não tem mais misticismos circunspectos ou tolos a te impingir conclusões Recortado na inutilidade espera com um olhar traiçoeiro sua própria imagem se refletir nos espelhos queanos tenta evitar e não pode Caixas vazias frascos curiosíssimos de polímeros lhe colocam em alerta e imaginas então a vaga dor que passa como fumaça dentro de trincheiras que distribuem gente descaracterizada de seus individualismos sagrados para parentes amigos e eles mesmos ferindo com ardência nos olhos aqueles que não tiveram tempo de viver e sentir um pequeno e restaurador complemento deles Chora por tudo isso sabendo de antemão que sua impotência de levantar um dedo em luta por liberdade destes já foi ou já era tarde e vai sumindo dentro de uma noite Sem pedidos e desculpas já que não tem nem razão de considerar pecado o que uma massa de personalidades apóia sem o mínimo pudor ou arrependimento Mas isso não te consola segue fechando e abrindo os olhos fechando e abrindo os ouvidos e levantando melhor nos dias chuvosos e nublados que com uma sutil camada em nível das aquarelas sombrias te acalma e te refresca apoiada por um certo conforto Mas está ciente que ela trabalha de forma adjunta como coadjuvante de bengalas químicas.

Era Uma Vez Aquela História Que Sempre Trazemos Inconclusa Nas Fibras Nuas

Ascende aos céus telhado! Aos céus de músicas barrocas. Ascende aos céus! Na terra eu permaneço com o procto da minha existência sofrendo a ardência do mal. O que tem no pensamento do homem que torna próximo e comum o som de vozes de música antiga parceiro dos sentidos ao contemplarmos os fragmentos de uma pequena varanda? A coluna que sustenta aquele telhado que se projeta em frente minha janela tem a transcendência da arte que toca o íntimo do ser. Mistério dos mistérios! Não há o que negar, nós que divisamos o todo havemos que admitir: somos feito cemitérios. Há sim necessidade de ídolos que em diferentes épocas e em estações matinais adolescentes nós nos espelhamos. Deles necessitamos como transição para nos apresentar existentes. A menina na puberdade não tem como não sentir comoção diante do “pop star” ou do ator Hollywoodiano que está em evidência. Não nos exasperemos. É comum a este plano a afirmação da inconsciência grupal. Em doses apropriadas não é, em si, o próprio mal. É outra forma de religiosidade. Talvez menos corrosiva da alma do que aquela, aparentemente calma. Faz o seu trabalho, impressiona, leva ao êxtase momentâneo, realiza seu objetivo de apoio à aceitação social: ritual. Vai-se com naturalidade sem causar (quando não desvirtuada) maior dano. E estas atitudes são elásticas, heterogêneas, não estão vinculadas apenas a uma aproximação de fenômenos populares de conjuntos musicais ou danças tribais. Não só de atores e atrizes são formados. São bem sutis e diversificados. De várias cores e formas se apresentam. Pode ser um livro ou vários. Uma erudição radical, um estudo ou o dinheiro. A reflexão: ritual. O natural tem tendências de ir arrefecendo ânimo, deixando apenas numa história rica em retrocesso, e evocada. Não deixando mesmo, nada. Apenas, em alguns, o esquecimento total. Mais difícil e mais virulenta é a ação de outra forma de circuncisão. Esta tem um poder destrutivo e mutilador de personalidades. Não momentaneamente, mas, às vezes, irreversível: cabal. Onde se encontra os puros ares das alturas não contaminados pelo veneno dos deuses? Abre os teus braços e voa, se pode. Atinge o cume da visão clara de que a vida é maravilhosa e pedra rara demais para ser deitada fora pela sua ilusão. Não aceite também minha palavra, pois as palavras podem ser frias e não atingem o interior preciso das coisas. Vive, realiza-se no que é prazeroso e na palestra sincera e na piada contada com expectativa do riso por aqueles que te conhecem e te querem bem. Aqueles que amam a tua genialidade e a sua estultícia de igual forma, na mesma medida. Não se importe com o tempo em que não irá mais existir assim como não se exasperava no tempo em que você não era. Dorme, passeia e ri. Caminha com um cão ou com crianças e amigos, “peripatéticamente”, ensinando e aprendendo. Escreve, lê, ouve e olha. Não fuja da sua própria filosofia e aprecie a comida e a bebida como se fosse a última vez que o fizesse. Com o sabor agradavelmente cítrico na boca, sinta o imenso prazer de descascar a próxima laranja, com calma e interesse, com simetria, simplicidade e arte.

Não te enganes. A música que ouve com tanto orgulho e reverência, e zelo. Para outro é só maçada, ou não é mesmo nada. Horror igual ao que você sente dos “idiotas” que apregoam seus gostos nos alto-falantes dos automóveis pela avenida, têm-no outros que repudiam suas sinfonias e sonatas tão queridas. –E, meu caro, assim é a vida, ou os fatos do mundo. Não queiras ser profeta de qualquer anunciação, pois tudo que nasce do nosso desejo de mostrar é uma forma de escravidão. Faz como reza a sabedoria: esconde no íntimo do seu quarto, da sua cela, e abre o seu próprio coração-mente-ouvido, para o que lhe é caro. Não Impinjas a outrem uma emoção que não pode existir para ele, assim como não pode tu mesmo no que é sagrado para seu irmão comoção sentir. Medita nestas palavras e ousemos talvez concluir que elas não são de todo falsas e assim estaremos colaborando para que certa tolerância aflore nas serenidades particulares.

Sente o desconforto como alguém que apesar dele tem um refúgio seguro sob um teto firme, cômodos confortáveis, lazer literário, televisivo e virtual. Sente o desconforto da dor que lhe apoquenta como este que pode sorver coisas gostosas e tenras voluptuosamente, três ou mais vezes por dia. Sente o desconforto que se torna mais ameno por sua própria condição privilegiada. Sente, pois assim, ele é quase nada.

Terríveis verdades passaram a me assombrar. Desde que apareceu, meu mundo sereno e calmo, repleto de antigas verdades, me olha com sobrancelhas arqueadas a fixar-me. Eu atônito permaneço em xeque. Águas imóveis, lago tranqüilo por pedra lançada por forças desconhecidas cria círculos concêntricos que jamais tornam a repousar. Tornarão? Todos os meus pensamentos são juízes a apontar-me entre os mortais! Em minha mente os mais prezados valores são fósseis não descobertos, são resquícios que antes da lei da vida aflorar na sua imagem ditava todas as coisas. És além do todo. Voas inacessível diante os meus olhos e ao alcance das mãos. Minha visão não está preparada para esta luz ofuscante que refletes. Meus sentidos não podem respirar a mistura volátil dos aromas instigantes que deténs sob o teu domínio como se fosse quem rege toda a natureza ao redor de todos os seres viventes, enquanto um número e um nome soam em mim como se fossem músicas agudas, estridentes e dissonantes, tua vida corre, pura, normal em todas as suas alegrias, companhias aprazíveis condizentes contigo, salutares. Embora a naturalidade me assegure o certo, um punhal afiado corta os meus nervos a cada indício dos interesses normais e retos que sondo em tua história. Vivo para olhar relógios com a sensação de que o amanhã ainda reservará para minha mente o sorriso ameno da saudade do não vivido e conservará também para mim um olhar amigo. Quem o saberá? Quem poderá saber?
A verdade continua encoberta e não pode ser desvelada, pois que não existe em nada. Quando você assiste a passagem do tempo na certa se tem pensamentos como os já cristalizados. Achas que conheces o vento ou o mundo que roda com gente por cima, mas se ancoramos nossa mente por um instante apenas avistamos uma ponta de incerteza desconexa e firme nos alertando que a segurança está na constante mudança. Agudo é o brilho de alianças!
Seu eu pudesse dizer toda a verdade que sinto dentro de não sei onde, mas ela se esconde, e não é por medo de sair cá fora, mas por piedade de quem ela devora. O relógio que em ruídos vai comendo o tempo é implacável quase sempre. Mas quando eu mais quero que o dia e a noite role, ele parece brincar com a minha sorte. Não é porque temo o sol ou a lua ou mesmo a morte. Hoje? Pra mim é nada a conseqüência mais forte que em prol dos outros me aprisiona na torre. A beleza pode habitar neurônios em sinapses cintilantes tão valiosas como grandes e raros diamantes. E fios delicados e inconstantes perfumam a minha memória de fragmentos. Amanhã mais perto e mais longe continuará a minha história, e o meu nítido semblante que eu tinha não será mais sério e correto. Absolvo a mim mesmo de um crime escarlate que mancha desta cor um pensamento fixo. Nada que eu possa impingir-me pode reter a torrente. Nada me redime. Querem que eu me mate! Por isso sou juiz e júri de um absurdo que atravessou como raio as figuras retesadas e obsoletas de meus músculos tensos e cansados. Em pensamento desejo a imagem que queda pra sempre entrelaçada em si mesma me negando os créditos de meus heroísmos.





Aquilo Que Ninguém Via Se Mostrava a Mim Através de Um Fio de Sensação Difusa.





Chegamos aqui através de muitas conjecturas que foram sendo feitas ao redor do mundo em nossas próprias cabeças. Todos aqueles que nos foram caros em certos momentos também nos colocaram em xeque e cobraram de nós uma realidade para a qual ainda não estávamos preparados. Ponto. Por isso hoje sendo dia ou noite, madrugada ou alvorecer, eu fixo o olhar agudo e ouço com atenção as nossas antigas conversas nas quais sempre esbarrávamos em elementos plu-ri-di-men-sio-nais que achávamos que estavam distante de nosso entendimento de claro, escuro, agudo ou grave. Então paramos um dia de pensar nisso tudo. Por quê? Para tentar desamarrar agora para sempre uma asa que estava presa no nosso corpo e que sem poder abrir não alçava nunca o vôo libertador que lançasse a resposta definitiva a todas aquelas nossas indagações cautelosas e entendidas por muitos como profanas. Mas qual foi o homem que não blasfemou para o seu tempo a fim de gritar uma grande verdade futura? Todos aqueles que lutaram contra uma massa institucional fortemente armada foram crucificados ou de forma física ou psíquica diante de uma multidão que ria e ovacionava os algozes. Instituído foi por muito tempo dentro de nossa própria casa, da nossa escola, do nosso trabalho-escola, ou dentro do próprio instrumento que antes amavas, mas tinha câmeras ocultas que vigiavam e vigiavam com os seus olhos de inseto multifacetados se você estava mentindo para você mesmo ao tentar executar com algum talento uma obra que já fora realizada por outros. Muitos destes outros eram impuros para ter o direito de usufruir de nuances sutis e sub-milimétricas de nanotecnologia auditiva que só você podia estar inteirado com a mesma sintonia daquele seu amigo-irmão-artista que lhe proporcionou saber daquela mensagem codificada que estes ávidos e hábeis dedos velozes e coração duro podiam destrinchar com uma placidez dura e gélida. Não, você nunca foi um deles. Estes homens te cobraram isso durante muito tempo e mesmo nas atividades que te aplaudiam estava presente um fingimento oculto que te empurrava rumo ao ostracismo. Não todos é verdade. Sinceros e incorruptíveis amigos que conquistastes te acompanharam e te acompanham pelo que você é, mesmo que corram o risco de uma palavra sua colocar estes mesmos amigos em determinada situação de emergência da qual eles se vêm obrigados a se desvencilhar. Mas ainda assim te amam e sentem que você tem um poder revolto e vário dentro de sua cabeça (que também chamam coração) e podes a qualquer momento explodir à maneira de acordes Zarathustrarianos que são como as bolotas densas e compactas e depois de alguns compassos arrebentam em carvalho grandioso! Diametralmente separado de si mesmo tens agora a lucidez que tanto te fugiu como pontinhos obscuros de sua vista astigmatismezada ainda mais e mais com o tempo de vida. Aí como disse o grande bruxo você consegue o que ele não pôde realizar e capturas um destes dizendo; és tu, tu e não outro! Agora a paz e o silêncio, porque você tem todas as respostas que antes lhe foram negadas e segue olhando para quem merece um olhar, beijando as faces de quem lhe é caro. Mas pode negar-se definitivamente a receber o beijo do traidor que sorri na sua frente, mas te vende ao inimigo das palavras. Você luta a luta que não é vã, como queria o poeta, mal rompe a manhã você lutou, mas já não tem forças para isso e esperas cair à tarde que traz um frescor mais ameno e lhe da força e lhe transmite bravura indômita que lhe impulsiona e dirige. Sim, sim, esperamos e plainamos como os pássaros alertas que do alto de suas vistas acuradas podem divisar a presa do alto, além, muito além de quilômetros no azul e branco de céu e nuvem que eles cortam com vôo certeiro e se atiram no nada para apanhar no seu bico afiado aquela única e inusitada partícula que ninguém conhecia e estava oculta no âmago recôndito da sinfonia que desculpava a sua vida de ócio. Hoje temos outra chance: adiante companheiros!

1

Estiras a ex-tirania no caminho que percorres. Agora, ou na hora em que morres.

Quantas águas devem passar por nós para que enxerguemos a perfeição de coisas simples que são inusitadas e ululam diante de nossos narizes empertigados como se fossem iscas ilesas a nosso apetite, pois que esta fome acaba por só aparecer em um momento muito posterior que aquele que ela devia ser saciada. Então nos vemos acorrentados e impermeabilizados quando finalmente somos surpreendidos pelos nossos principais e mais simples desejos. A corrida que se iniciou há muitos anos atrás tem um efeito corrosivo em nosso pensamento que fere um modo de vida que estará para sempre arranhado e cerceado por ilusões desfeitas. Você se torna o que mais não queria e quando tenta romper com esta estrutura inconseqüente que foi construída em nome da prudência se depara com um exercito de guardas que vigiam a porta. Juntas então todas as suas forças que já não são aquelas de outros tempos, com energia de jovem sangue, mas que parece ao mundo muito mais contundente por ser retirada do âmago de um inferno interior no qual ela foi, por longos anos, forjada a ferro e a fogo sob marteladas de um demônio obscuro e irrequieto que aprisionastes no seu corpo incorruptível pela exterioridade, mas sugestionável pelo vento. Tem então a sensação de poder finalmente viver sem a limitação de alguns elementos perturbadores. E sai de sua casca a procura desta outra forma de vida que lhe sorri e te convida a uma aventura de um jogo totalmente outro, um jogo transfigurado em algo luminoso e vazio de expectativas difusas, um jogo calmo e caminhante que passo a passo lhe mostra um sabor, um aroma, uma beleza que antes lhe pareceram indiferentes ou mesmo desprezíveis, mas que agora você considera real e como sendo o verdadeiro sangue de suas artérias já tão sobrecarregadas de um líquido ruim que mentia a si próprio de forma obsessiva e irresponsável. Conclui que não é tarde para planar sobre tudo o que antes te corroia ou que te torturava com golpes reais e imaginários, mas sempre fortes e de uma brutalidade constitucional e burocrática que o fazia sentir que o louco mais distante de ti era o mais feliz dos homens. Tomas então a decisão que pode reverter toda a sua vida e cria, não sabe mesmo de onde, uma energia de átomo liberto que lhe impulsiona em direção a uma outra história a uma outra perspectiva não linear e não rija. Aceita, assim, até mesmo sofrer na sua carne uma dura provação, pois que dela também depende a sua tão sonhada liberdade. Teme ainda, algumas coisas, mas estas são poucas e a cada passo que avança vai deitando por terra alguma parte deste temor como se fossem vestes das quais se despisse, abnegado e inconseqüente, sem desviar o olhar que fixas em um horizonte de cidade e jardins que lhe sorriem como quem te chama para um merecido despertar letárgico e pleno de fidelidade com você mesmo.

III


Da Performance e valorização Sincera da Arte



Parece correto expor algumas idéias que parecem não prescindir de lógica no tocante à performance de artistas ou de alguém que realiza ato que pode ser considerado realização artística, mesmo que o indivíduo que o realiza não seja, dentro das convenções tradicionais, ou denominações específicas da atividade em questão, alguém que detenha, por assim dizer, o título de artista.Porém há que se argumentar que qualquer um que realiza o ato artístico poderia ser denominado artista sem erro de quem atribui a este, tal nome.Mas a princípio não é esta a questão primeira a ser abordada neste capítulo e sim o porquê da ação da execução artística em algumas formas.Algumas destas ações derivam de origens autênticas e outras falsas. Acredito que podemos considerar que em um primeiro momento toda, ou grande parte das ações deste tipo, originam-se em um sentimento verdadeiro e puro de realizar algo prazeroso para si mesmo. O homem que inicia um processo de aprendizagem das técnicas de execução de um instrumento musical, por exemplo, o faz, acredito, pelo simples desejo de um prazer de entretenimento e diversão, primeiro para si mesmo e posteriormente também para o outro. Talvez esteja justamente nesta transição de uma função de uma satisfação pessoal para uma de satisfação alheia uma das células ocultas da corrupção da pureza daquele primeiro encontro com a beleza da inspiração da aventura artística.




Muitas são as questões a serem levantadas e analisadas sobre o assunto e com certeza nem todas serão abordadas neste capítulo e mesmo as que forem talvez não o sejam de maneira completamente satisfatória. Mas devemos pelo menos tentar expor algumas e refletir sobre elas dentro dos limites possíveis.




Uma delas é exatamente esta transição da qual inicialmente se falou acima. Transição esta que tende a obliterar a visão e os sentidos para uma percepção perfeita do próprio objetivo da arte, transferindo este objetivo para uma meta contrária àquela função primordial. Logo após seus primeiros contatos com o instrumento (analisando a execução instrumental) o aprendiz começa a sofrer de uma espécie de síndrome da necessidade de aprovação do outro que torna a atividade frustrante, sem que ele mesmo o perceba, nestes primeiros estágios de seus estudos, e que, talvez, muitas vezes nunca venha a atinar com eles. O que faz com que um sentimento incômodo passe a tomar sorrateiramente o lugar antes reservado a um prazer genuíno. Este sentimento é aquela necessidade de se conseguir superar certos patamares estipulados não pela própria arte, mas por outros indivíduos. Esta definição de estágios evolutivos que na realidade não são evolutivos, como acabaremos por perceber no decorrer do capítulo, mas antes, inibidores dos valores reais da manifestação artística, uma vez que tais modificações da ótica que se avalia não é exigência da arte, mas muito pelo contrário apenas uma criação paralela definida por visão tradicionalmente equivocada.




Quando se acostuma com esta situação o executante acaba por se enredar em um círculo vicioso que o aprisiona e o transforma em alguém perdido que não consegue perceber os verdadeiros motivos da realização artística. Não que uma performance na música deva não aspirar a uma realização pública de sucesso, e esta conclusão é não só necessária como natural, embora possa não ser imprescindível, porém observamos que muitas destas, por melhor que se realizem, mesmo que logrem atingir objetivos realmente ideais na transmissão das emoções codificadas nas obras, muitos dos apreciadores aos quais elas se dirigirem com certeza não estarão receptíveis ao verdadeiro sentido contido nas mesmas, mas antes, estarão, assim como aqueles estudantes ou executantes, antes relatados, com a percepção obstruída por fatores externos à verdade da obra.Poderíamos incluir aqui uma observação sobre os interpretes profissionais da realização artística que muitas vezes se assemelham ou mesmo superam os ouvintes equivocados na compreensão do todo, da excelência de uma obra, e, ignoram, muitas vezes, aspectos intimamente relacionados com estas obras mesmo que eles próprios a executem e embora o façam muitas vezes bem ou até brilhantemente.Realmente é difícil atingir a totalidade das coisas, e a comunhão com o todo pode fugir até mesmo a observadores e apreciadores dos mais capazes, atentos, informados e sensíveis. Porém, menor é esta possibilidade quando nos referimos às pessoas com estes atributos. Muitos dos grandes interpretes, no entanto, sem dúvida, não estão incluídos entre aqueles que estão desvinculados desta plena intenção e interação com a obra e estes certamente a traduzirão de forma eficaz e com extrema sensibilidade.


Voltemos ao executante aprendiz e a sua incompreensão dos problemas que o atingem e fogem ao seu controle por estarem já consolidados nas ações e reações do cotidiano da realização dos atos vinculados à prática artística. Pode este indivíduo sofrer por muito tempo tal agressão e continuar a insistir nesta flagelação imposta e não compreensível por ele, pode talvez, abandonar qualquer prática relacionada a este tipo de atividade por cansaço ou incompreensão dos próprios sentimentos, ou pode conquistar sua liberdade atingindo um entendimento acertado do verdadeiro sentido e da verdadeira pureza da arte. Quando, por uma grande felicidade, ele consegue atingir este último alvitre, passa então a realizar suas práticas sem os vícios torturantes das intervenções exteriores, mas de uma forma natural, amena, e de uma serenidade que o conduz a novas descobertas e a uma ampliação a infinitas possibilidades. Passa ele então a experimentar o verdadeiro sabor do deleite das coisas simples, da unidade das formas, da simetria universal, que por mais espanto que possa causar parece estar oculto em obras de uma simplicidade técnica extrema, pois grandes coisas podem estar escondidas em uma gota microscópica. Claro é que não está aqui subentendido que o extremo oposto em dificuldade de realização técnica tenha que ser destituída destes valores, pois que se a obra é algo de valor transcendental, conterá todos os elementos que a impregnam de beleza seja ela de uma página simples ou de extensão e complexidade técnica extrema.


A grande conquista passa a ser, a descoberta de que nenhuma obra é superior ou inferior como arte por ser maior ou menor em extensão ou maior ou menor em dificuldade de realização, mas por outros fatores diversos destes e que estão ligados a padrões estéticos que constituem o cerne das mesmas e que somente são visíveis ou perceptíveis àqueles que abandonaram, através da conquista da evolução perceptiva, a valorização errônea de elementos não essenciais e descobriram desta forma que a verdadeira arte está ligada à descoberta do que é verdadeiro e imprescindível a ela mesma, e qual é a relação que o indivíduo, por si mesmo, deseja travar com a sua arte.



IV



Diálogo Imposto



Duas pessoas estão diante uma da outra. Podem estar viajando em um ônibus, Trem, avião. Geralmente é necessário um contato de tempo prolongado, de algumas horas, para que se estabeleça a necessidade da conversação imposta. Os dois indivíduos se põem a palestrar. Primeiro começam de forma cautelosa, tateando o terreno para conhecer um pouco mais do seu interlocutor. Aos poucos a conversa vai tomando forma e mudando para assuntos mais pessoais. Ninguém cogita da utilidade do silêncio nas viagens. O ar fica impregnado de fatos pessoais corriqueiros que não interessam aos demais. Mas se fosse este o único problema que a conversa deste tipo acarreta, ainda seria pouco. O pior é que isso faz com que a já tratada perda de identidade no capítulo “das ações”, ocorra também nesta outra peculiaridade comportamental. O fato é que estes diálogos são iniciados e alimentados, apenas para que cada um individualmente alimente o seu ego, a sua necessidade de falar de si mesmo. Todos que praticam esta atividade ficam envolvidos por uma teia emaranhada que acabará por sufocá-lo, fazendo-o, quando cai em si, a ter uma espécie de ressaca mental que perdurará por algumas horas ou mesmo por alguns dias. O homem promete a si mesmo modificar o seu comportamento e diz que ira ser mais econômico em suas palavras e mais cuidadoso em suas confissões. Mas não sustenta por muito tempo esta decisão, pois ela exige uma disciplina que muitas vezes ele desconhece. Ocorre também durante a conversa um outro caso interessante que é o constrangimento do silêncio. Quando param de dialogar depois de muitos minutos de conversa franca e sonora, paira no ar uma espécie de vergonha, um incômodo, e o cérebro começa a trabalhar, já aqui de forma premeditada, na construção de uma pergunta ou comentário, afim de que a constrangedora pausa seja eliminada. Tornam-se escravos durante todo o tempo que permanecerem ao lado um do outro, de seus comportamentos calculados. Calar é melhor.


V



Variedades



Sobrenatural



O medo do sobrenatural é um medo físico. O que podemos temer em um fantasma, em uma visão dos mortos, a não ser que este ente nos cause algum dano físico? Talvez nos mate também ou nos fira de alguma forma. Eis todo o medo do desconhecido mundo dos espíritos. Não havendo o temor do dano material, corpóreo, não existira medo.





O Ideal da serenidade.



Alcançamos muitas vezes este estado através da ajuda de uma droga. Esta sensação de flutuação tranqüila sobre os temores e as tensões deveria ser perene. É isso que ensinam os sábios todos. Se o conseguiram não sabemos com cem por cento de certeza, mas ou ambicionavam este estado ou o queriam impor aos outros. Enquanto não o atingimos podemos desencadeá-los através da química que não é um recurso muito aconselhável, mas, às vezes, é necessário.



O livro Prazeroso



Sempre encontrarei prazer maior na leitura de livros que despretensiosa e elegantemente, trazem uma linguagem suave e sincera. Mas no fundo estes exemplos acabam por serem a própria negação da necessidade da leitura. Viver, somente, sorrir e caminhar, não seria o melhor meio? Eis o que deveríamos aprender com os livros: que nada do que realmente é importante para nossa vida e felicidade se pode escrever, e que caso se possa, só se poderá anotar isso mesmo, que a não necessidade de um subterfúgio literário é um dos caminhos para a tranqüilidade e a libertação.



Tudo Igual nas transfigurações




Tudo é igual. No interior de uma casa, um aniversário, uma comemoração de final de ano, ou simplesmente a chegada de parentes que não se vêem há muito tempo, ou um simples encontro de despedida dos colegas de trabalho antes das férias anuais, desencadeia repentinamente uma profusão constrangedora de ditos e atitudes que desnudam as pessoas de forma grotesca, daquela máscara que os cobriam. Dioniso sobrepondo-se á Apolo? Quase todos acabam por demonstrar atitudes divergentes das que comumente adotam. Eu seria a exceção? Sou por acaso um arauto da conduta verdadeira? Mas qual é a verdade, a aparência ou o interior? Já não dizia o filósofo que a imagem Apolínea vem sobrepor à Dionisíaca para que o homem suporte as imagens? E mesmo que eu o quisesse, por acaso não me transformaria também diante de outras situações? Nada vale meu silêncio se eu o tomo em momento de minha escolha consciente para remar contra a corrente daquela hora. Nem meu sorriso passivo diante das manifestações é justificável, se eu participo alegremente e sobriamente premedito em outras circunstâncias uma conduta que contradiz aquilo que eu devia defender se quero ser eu mesmo, ainda que não me conheça por completo.



A Maior Vantagem



A imagem da perfeição feminina. Não é esta a maior vantagem que tem quem possui uma mulher com estes atributos sensuais? Não está na contemplação e no toque a mais desejável prática? Pois não é verdade que no momento da consumação dos extintos mais elementares todos os gatos são partos se não pudéssemos discernir esta imagem perfeita? Certo é que existe também a energia ocupada no espaço que concentra uma leveza amena no interior de um ambiente e mesmo que cegos se manuseamos o corpo leve, macio e pleno de frescor da juventude, muito mais atraente nos é esta condição do que a oposta. Mas se estivéssemos com uma venda nos olhos, e com as mãos atadas às costas, somente podendo realizar o contato do sexo no sexo, não seriam todos os corpos idênticos?



VI


Memória



São complexos e interessantes os mecanismos da nossa memória. Este fato é bem conhecido de todos, e certamente o é a muito mais tempo que eu imagino, porém algo que aconteceu recentemente comigo me pareceu digno de nota, e mesmo que não constitua novidade para muitos, pode ser que alguém que um dia inadvertidamente venha a ler este texto ao se deparar com o fato narrado se surpreenda por ser familiar a ele, sem nunca o ter visto narrado por outro, ou mesmo não tenha jamais reparado nisso e goste de percebê-lo. Se a ciência deste tem utilidade ou não, eu não saberia dizer, se faz mal ou bem é para mim outra incógnita. Mas esta mania de observar as coisas e encasquetar com elas me obriga a escrever. Eu havia estado em um determinado local que eu não me lembrava onde havia sido. Sabia que ao sair deste local eu tinha agradecido alguém por ter sido recebido e atendido, devido ao fato deste atendimento ter acontecido de forma extraordinária, pois eu não havia agendado o encontro antes, com quem quer que fosse, e disso eu me lembrava bem. No entanto não podia atinar onde eu havia estado ou com quem. No momento em que pensava isso e tentava lembrar, eu estava aguardando na ante-sala de um médico que visito regularmente devido a um problema asmático crônico. Não obtinha nenhum sucesso tentando forçar o pensamento para me lembrar, e como é peculiar de nossa memória, parece travar quando tentamos recordar por força. Havia já desistido de permanecer tentando, quando meus olhos que passeavam pela sala despida de quadros ou quaisquer outros ornamentos, e se divertiam apenas lendo as recomendações escritas nos extintores de incêndio e com as placas no alto das portas dos dois consultórios que eu tinha na minha frente, se depararam com estas palavras, escritas em uma outra placa da parede ao lado de uma das portas: “não fume”. Neste momento recordei de outra placa destas que eu havia lido recentemente em outro consultório, que, no entanto, trazia dizeres mais imperativos que aqueles que eu acabara de ler, pois diziam: “proibido fumar”. Este outro consultório, em que eu vira a placa com aqueles dizeres mais incisivos, era o de um cardiologista onde eu fora para realizar uma avaliação de rotina. Lembrou-me neste momento que aquele médico me perguntara se havia algum problema cardíaco em minha família, e perguntou mais especificamente se meu pai tinha boa saúde, ao que eu respondera que apesar de ele asseverar que sim, e se julgar muito saudável, tossia demasiadamente e tinha muitos problemas devido ao excesso de fumo. Fumava a pelo menos cinqüenta e nove anos, já que tinha hoje setenta anos e afirmava que começara aos onze. Não havia nenhum mal cardíaco que fosse de natureza genética, mas todos os seus desconfortos me pareciam provenientes do tabaco. Recordei que ao comentar isso com o médico eu havia lhe contado que o meu pai, apesar de não fazer apologia do cigarro abertamente, não concordava com todos aos malefícios que lhe eram atribuídos, e pensei então, ali, naquele momento em que esperava para ser atendido no pelo pneumologista, em um outro dia em que havia discutido com o meu pai sobre estas questões dos males do cigarro e que eu, então, lhe havia dito que já que ele sabia tanto a respeito do assunto, e que sabia que o fumo não fazia tanto mal como os médicos, cientistas e os estudos comprovam. Que ele devia escrever um tratado no qual ele propusesse provar esta sua tese, e que se ele finalmente o fizesse, causaria uma revolução no mundo e certamente se tornaria um homem muito rico, já que isso certamente seria de muito interesse para as companhias fabricantes de cigarros, que poderiam então lhe pagar muito por se livrarem da grande quantidade de processos que respondem na justiça, como também pelo aumento que teria doravante nas vendas, uma vez que uma infinidade de pessoas gosta de fumar ou, pelo menos, são viciadas e não podem parar. Aqui, por haver pensado em tratados de medicina, me veio à memória a imagem muitos e volumosos livros e compêndios de medicina que eu vira na estante da sala do médico cardiologista, e imaginei uma cena fictícia, onde eu falava ao médico sobre estas convicções de meu pai e do meu desafio para que ele o provasse através da publicação de um tratado científico, e que então, em um gesto estranho o doutor tiraria da sua própria estante um volume imenso de capa dura, mas que tinha todas as folhas em branco, e me entregava o mesmo para que eu o levasse ao meu pai a fim de que ele o utilizasse para escrever o estudo. Finalmente, ocorreu-me uma outra cena recente. Eu havia estado a algumas semanas no meu dentista, e como este conhece o meu pai e ambos são conterrâneos regulando em idade, este me disse que havia encontrado com ele havia alguns dias quando os dois bateram um bom papo. O dentista me disse que ele lhe pareceu muito bem e que o tinha achado com a cabeça muito boa, pois recordara de tudo dos velhos tempos em que eram jovens na cidade natal de ambos, ao que eu retruquei que só se o fosse com relação a isso, pois que ele era extremamente teimoso e eu aproveitei para contar o caso de sua maneira turrona de agir em relação ao cigarro e às suas afirmativas de que este não é tão ruim como dizem os médicos, e aproveitei também para contar sobre a pergunta que o médico me fizera sobre a saúde dele e sobre o meu desafio para que ele provasse ao mundo que o cigarro não faz tão mal, e ao me ouvir contar isso o dentista riu bastante e concordou comigo que realmente se ele o pudesse fazer ficaria rico e famoso. Rimos então um pouco sobre isso enquanto eu não estava com a boca cheia de instrumentos odontológicos, pois eu estava ali restaurando uma obturação que havia caído de um dente da parte da frente da arcada. Então, lembrei-me que ao deixar o seu consultório naquela tarde eu o havia agradecido por ele ter me atendido em um horário excepcional em caráter de urgência. O meu cérebro procedera de uma forma muito interessante. Minha memória fizera com que o meu pensamento desse uma volta extraordinária a fim de me fazer lembrar de algo que eu tentava me recordar? Por que o fizera? Se ela tem poder de fazer algo que envolva tamanha complexidade, não o tem de me fazer lembrar imediatamente do fato em si que estou buscando recordar? Ela sabia que eu queria me lembrar daquilo, pois ela e eu somos um. Mas qual mecanismo que faz com que isso ocorra? Será que o fato de ornamentar o desvendar da lembrança através destas reviravoltas tem algo como uma configuração estética, um toque de arte? Será que estas formas e processos pelos quais as mentes fazem com que as pessoas se lembrem de algo são comuns a todos os indivíduos, das mais diversas áreas de atividade e interesses? Que me respondam os estudiosos da mente, os psiquiatras ou os psicólogos, senão eu incorrerei no mesmo erro do meu pai querendo explicar algo para o qual não estou de forma alguma preparado.




Fragmentos do Evangelho Segundo os Bons Ateus


I




Em outros tempos para os cristãos foram iguais (como não são mais) judeus e ateus: irmãos. Os anos passaram. Séculos. De ambos os nomes malditos outrora hoje um é apenas povo e religião. Permanecem, no entanto, como a mais perfeita rima rica límpida e fina. Judeus e ateus em tudo combina com o nome de deus.




II


Só podem alegar moral aqueles que tem ou tiveram o poder de não e de sim sobre o festim. Quem mesmo detendo o cedro abdicou da lascívia. Meus olhos que a terra não há de comer (pois mais puro é o fogo que consome) viu homens com vestes talares com desejos e com fome de voracidades ímpares que invadiram a pureza das vidas e transformaram ouro em barro como um avesso de Midas. Nas tuas roupas manchadas deste carmim profundo um mundo de almas clama o fim de tuas hostes. Das muitas vozes que clamam no deserto de tua indiferença algumas conservam sinceras e inocentes as antigas crenças. Maldito é o seio que trai quando devia oferecer o abrigo. O inferno é pura sinceridade se mostra a iniqüidade que sob tuas asas escondes. Tua escritura está podre, corroídas estão tuas entranhas. É apenas letra morta que mata aquele que a toca. Os ouvidos dos teus sacerdotes estão surdos para o pranto do mundo. Oco são teus discursos. Imundo o sangue que com a mão deformada ofereces e envenenado o teu pão. A tua destruição é na utopia distante o alvo de minhas preces.




III





Alguns que parados olham vêm nas árvores, árvores, na grama, grama .Amam com intensidade a chuva o sol. Parados, leves e sinceros, quase inertes. E o sangue de suas veias verte pelo homem pela criança e pela natureza. São espíritos de música e dança alma que à beleza balança. Quem são estes? Muitas vezes pergunta ou adverte a multidão: São incrédulos, ateus, não cristãos! Na missa, no culto, na fé triste de quem se nutre do nada, aqueles acusadores, dedos em riste, apontam por certo para as pessoas erradas.



IV



O assassino beija seu filho lhe dá pão vinho amor. Os dois se olham. Já foram em outro tempo tal qual o grão de milho algo ínfimo minúsculo: cauda e motor. Com a mão assassina acaricia o querido ente enquanto o crime maquina e ronda sua mente. Vida é sina! Outrora ambos sementes antes disso onde estavam já não se lembram mais. Se no pensamento de Deus ou no saco de seus pais.




V



Quando perceberes finalmente que mesmo no meio das coisas existes tenta iludir a sua mente. Insiste em apagar qualquer vestígio de que já não tens privilégios de criatura criada do nada. Vês o todo com olhos saltados das órbitas imaginárias expostas. Novamente balanças a cabeça como que querendo pensar, posto que seja melhor que te esqueças a insistente mensagem...contundente (camuflada por ti mesmo) e fria do nada. E no final o nada? Mas não se exaspere, não se revolte. O nada faz parte do ciclo perfeito e natural e nunca será apenas nulo, mas puro ar respirado por animais e plantas onde você está mesclado no espaço amplo. O mal não está nisso. O mal está no engano e no sofrimento e a dor está no que vejo no final desesperante da melhora na limitação física e na preservação da memória. Um deus que existisse melhor faria. Não estaríamos entregues à mesquinharia do corpo enfermo. Teme meu irmão, meu amigo, teme realmente a corrupção da carne. Não a corrupção falsa como querem os homens hipócritas vestidos de sacerdotes. Mas a corrupção dos órgãos que se entregam ao ponto de lhe tolher a vontade impulsora, mas não a vontade da mente. Essa força que não é forte o bastante para o lançar livre no ar. Teme isso e também os abutres que te circundam com olhares e dentes arreganhados e sujos do sangue falso e doente do deus deles no qual fingem esperar enquanto têm horror à morte e por isso se enganam de se fiar no futuro após o além que inventaram para não ficarem loucos os insanos! Respira a todo pulmão, corre, viaja e ama a vida e a deseja prolongada se sã. E ambiciona a surpresa do repentino desaparecimento que é a melhor forma de abandonar o mundo.



VI



Estou sentado nas pedras que permitem a observação da vida em qualquer tempo. Um caminho de estrada rústica contorna raras vegetações. Um homem recém atacado por assaltantes está caído e ferido. Passam por ele muitos que não param para prestar socorro. Finalmente aquele que vem de uma aldeia onde não se cultua o deus de muitos dos que passaram e nem mesmo se admite crer no deus do mestre que conta esta história (o qual observo das pedras), afinal é este o homem que se detém e presta auxílio e ajuda ao ferido. Posteriormente o mestre o citará como exemplo para muitos que estão supostamente corretos para si mesmos. Mostrará com suas palavras, o mestre, que aquele é um exemplo de conduta ética e de padrão moral para ser seguido em relação a outro ser humano. E fica claro para todos os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, que o mestre dá como exemplo um homem que não crê no deus que ele mesmo professa, uma vez que este homem pertence a uma aldeia que é inimiga dos que cultuam tal deus. E não crê mesmo no deus que o próprio mestre se diz ser, pois que ele, o mestre, se anuncia como o próprio deus dos inimigos da aldeia daquele homem.

VII


Eu Sozinho e Raso Posso De repente me TraNsfOrmAr em Algo Transcendental
Viajo até a clínica que fica um pouco longe da minha casa. As pessoas que encontro no caminho são todas estranhas, mesmo que algumas sejam familiares. Sempre fui eu o estranho. O estranho no ninho. Eu sou o filhote do cuco. Passo por inúmeros carros e muitas casas me observam desconfiadas. Mas meu trajeto é certeiro como uma flecha. Temo o tempo todo. Receio por algo que não sei definir. Não sei divisar e nem trancar no meu olhar obscuro de uma forma definitiva. A vida é algo muito estranho. A existência é muito esquisita, absurda. Olhando para as pernas, olhos, bocas, narizes e cabeças (principalmente para as cabeças), percebo que os cérebros não são nada além de uma, super desenvolvida, última vértebra da coluna dorsal dos cordados. Uma vértebra muito mais desenvolvida que outras não têm o poder de nos conferir ou de reivindicar um lugar especial no mundo, no planeta. Estamos no mesmo barco que todas as outras espécies e ainda por cima somos os vilões que tentamos furá-lo. Todos os outros seres vivos que já estavam aqui muito antes de nós vivem, fazem o seu ofício de viver e procriar e de fazer de algum modo o bem para a terra, seja como presa ou como predador. Estes sim lutam o bom combate e lançam suas raízes, e muitas destas criaturas heróicas são árvores imponentes, gigantescas sequóias que rasgam os céus lutando por mais brilho do sol. Então me sinto um ínfimo e insignificante bandido que nunca poderia rivalizar em beleza e utilidade com tal portento colossal. Mas volto a mim e estou diante de pessoas, simples pessoas. Algumas me olham com o mesmo medo e a mesma desconfiança que tenho no meu olhar para com elas. Não podem mesmo saber de onde venho e quais as minhas reais intenções. Ninguém é capaz de ver dentro da mente e observar a índole. Por isso, ao sentar-me na poltrona, quero estar desarmado. Tomei o cuidado de deitar fora meu escudo e minha espada e venho enfrentar de mãos nuas quem me deixa falar somente com a voz e os olhos. Antigamente era a mesma coisa ainda que fosse outra coisa. Respiro, penso, a minha inquiridora, sem perguntar nada me lança um olhar tranqüilo e cético, mas firme. Este olhar transpassa meu cérebro e não há como desvelar o todo. Parado eu permaneço. Às vezes é melhor. Mesmo quando sinto faltar-me o ar que é o meu último recurso defensivo para a continuação da minha trajetória. Melhor é mudar. Muito mais fácil, ou mesmo que não muito mais aconselhável é depor pra sempre as armas que depus provisoriamente apenas e fechar os olhos para dentro de mim. Falo. E ao falar redescubro em mim segredos que já os tinha por mortos, mas apenas adormeciam soterrados em camadas e mais camadas densas de pedras. Ela é minha arqueóloga, minha paleontóloga que delicadamente retira o pó com suave pincel, e vai mostrando-me o fóssil do que eu fui e do que foram todos os meus próximos, todas as pessoas e os acontecimentos da minha, breve, mas longa história. Curta enquanto cronologia, mas eterna enquanto entulhos que abarrotam tudo dentro de mim. Sinto-me um homem. Sinto-me um ser gigante que ao menor toque, ou com a menor atitude ou palavra poderia mobilizar multidões que me seguiriam. E eu faria meu próprio rebanho de fiéis, de apóstolos de um novo tempo e de novos conceitos, aos quais eu poderia ditar do alto de um monte! Por que não? Então eu seria um novo profeta, um novo enviado, fadado a tornar-me um mártir. Pois irremediável e inescapavelmente um grupo dentre meus próprios seguidores se rebelariam em uma dissidência e em um motim traiçoeiro, porém necessário, tomariam minha tenda e me condenariam à morte. Hoje, neste século da energia eu seria eletrocutado. Eu desapareceria, mas membros sinceros e fiéis aos meus ideais roubariam o meu corpo e o ocultariam e passariam posteriormente a usar pequenas cadeirinhas elétricas dependuradas em torno dos pescoços a guisa de símbolo. Templos seriam erguidos em memória de mim. Tudo isso é a história que se repetiria oralmente ou por escrito e haveria perseguições e mortes em meu nome e inúmeros desdobramentos dos meus princípios emergiriam no futuro dando origem as mais nefastas discordâncias e muito costume prejudicial seria ensinado a todos na mais tenra idade. Quem pode saber e afirmar que isso tudo não poderia acontecer em meu nome? Eu, o único sóbrio que de antemão pode clamar com voz forte que eu mesmo sou um engodo e que maior enganação ainda é o que fizeram de minha memória, e seria eu mesmo aquele que, se ainda vivesse, poderia parar e impedir a mentira de todos, antes e depois de mim. E com força sobre humana conseguiria talvez, se vivo fosse, eliminar os primeiros anseios de me fazerem um deus, conquistando assim a eterna glória de livrar o mundo e os homens e todas as criaturas e plantas de um engano cruel, pois mostraria a minha própria face sulcada pelas humanas falhas e a daria a tapa oferecendo o outro lado a quem a quisesse agredir para que todos, definitivamente, pudessem ver e crer que o que é efêmero, mesmo se perpetuando na história construída, ainda assim é só carne e sangue e forma que foi atraiçoado com o que não pretendia. Sim. Meus irmãos, meus amigos. Eu sou o único e definitivo mestre, pois sou aquele que sabe que antes de mim nada era e depois de mim nada vem. Mas sou aquele que sabe mais que isso: sou o que sabe que no meu tempo e antes e depois dele nada fui ou sou.



Lições Teo-ilógicas 1

Gênesis sui generis in nonsense


Livro Único



Deus faz a luz e depois disso separa a luz das trevas. O que quer dizer que as trevas um dia puderam existir ao mesmo tempo em que a luz. Tudo está muito bem, se entendermos que nos tempos da criação de Deus tudo pudesse ser diferente do que é hoje em dia, ou mesmo em tempos passados, pudesse ser diferentes da própria palavra de homens de fé como, padres, pastores, apóstolos e mesmo Jesus, pois que estes advertem que é impossível coexistirem trevas e luz. Esta criação da luz se dá lá bem no início, ali pelo versículo 3 do primeiro capítulo do gênesis. Somente no versículo 14 do primeiro capítulo Deus faz os “luzeiros” Sol e Lua, o que faz entendermos que a luz antes criada não era proveniente do sol, pois que este ainda não existia até o versículo 14. A menos que estejamos lendo uma narrativa que não está em ordem cronológica, mas tal como em alguns romances e filmes em ‘flashback’, relatam algo como acontecido no início e que na realidade somente irá ocorrer posteriormente, ou vice-versa, devemos pensar que o escritor do gênesis se contradiz, o que não é nenhuma novidade, pois alguns filósofos, muito melhores que este desocupado filósofo de botequim, que neste Blog escreve, já escreveram sobre as inúmeras contradições dos textos bíblicos. Para não ficarmos estendendo, remeto o leitor ao dicionário filosófico de Voltaire (que, diga-se de passagem, não era ateu, mas sim anti-clerical). Assim também já se escreveu muito sobre inúmeras peculiaridades do texto que contribuem fortemente para colocar em dúvida a autoria do Pentateuco como sendo do personagem (real ou fictício, também não se pode ter certeza) Moisés. Mas voltando à questão da luz criada, o sol e a lua teriam sido feitos para separar a luz das trevas fenômeno que já tinha se dado no versículo 4. É o caso aqui de aplicar o raciocínio não cronológico para estes eventos, pois se não for assim isso é um contradito. Saber por que o autor escolhe a baleia para nomear dentre a imensa variedade de animais marinhos que existem poderia ser explicado, talvez, pelo tamanho da mesma e, consequentemente, o efeito de estilo grandioso e fantástico que disso possa resultar. A questão do castigo da serpente é intrigante. É nos informado que a mesma, por ter tentado Eva, e instigado-a a comer do fruto da ciência do bem e do mal, sofre uma retaliação e é condenada a rastejar por todo o sempre. O que faz com que possamos afirmar com segurança que antes ela não rastejava e tinha pernas a menos que flutuasse. Porém nesta forma de raciocínio (logicamente raciocínio humano, de quem herdou de Adão a mania de pensar, que este adquiriu pela ingestão de uma fruta), percebe-se que Deus já havia criado animais que rastejavam, uma vez que no versículo 26 Deus submete ao homem todos os outros seres vivos (a meu ver uma das maiores vilanias de Javé [que não são poucas] já perpetrada, pois qualquer outro animal cuidaria melhor deste planeta do que nós). Mas ele submete-os ao homem, inclusive os “répteis que rastejam sobre a terra”. Então fica uma pergunta que não quer calar. Se o fato de viver rastejando é um castigo, e Deus sabia disso de antemão, pois têm ciência de todas as coisas, por que estes animais que não cometeram nenhum delito já nasceram condenados a este infortúnio? Agora, se rastejar é uma forma de locomoção e de vida natural de alguns animais, e os que vivem nestas condições não se incomodam com o pó que ‘comem’ todos os dias, por que cargas d’água não escolher outra forma de castigo mais severo, como por exemplo, a própria aniquilação das serpentes do planeta. Bem talvez este alvitre possa não ter sido usado porque Deus na sua sabedoria infinita já sabia que pelas leis da seleção natural, que viria à luz muito depois, a falta destes animais seguramente acarretaria um desequilíbrio ecológico considerável, como, por exemplo, um aumento excessivo dos ratos o que poderia adiantar em alguns séculos a peste negra, e Ele poderia estar querendo proteger Noé e os outros tripulantes da arca de uma possível epidemia sei lá, eu não sou Deus, vai saber? Mas acho que ele tinha capacidade de pensar em outro castigo que não fosse algo tão comum, e que a rigor nem funcionou para todas as serpentes, pois se toda não tem pernas, algumas só vivem na água e por isso não têm como comer pó. Isso só seria possível se neste caso voltasse a valer o fato inusitado da luz coabitar com as trevas, pois do contrário não acho que exista pó e água, seja salgada ou doce, convivendo juntos. Talvez sim em níveis microscópicos (estou especulando, pois não sou especialista), mas acho que isso não seria suficiente para apresentar incomodo para estas serpentes ao ponto de ser considerado uma dura punição. Quanto mais avanço nas minhas releituras do livro do gênesis, me parece que as coisas não se dão em ordem, e se não se dão em ordem, podem ser passíveis de interpretação desordenada. Para Deus, segundo rezam as escrituras um dia é como mil anos e mil anos como um dia, mas isso só deve ser válido para alguns tipos de interpretação, pois em alguns casos os dias têm exatamente o tempo que tem um dia, como quando da destruição de Sodoma e Gomorra, que desde o aviso dos anjos até o enxofre ser despejado dos céus parece que transcorrem apenas alguns dias normais, ou mesmo quando no Novo Testamento se referem á ressurreição de Jesus, e contam três dias normais. Apesar de que parece que esta conta está meio errada, mas este ponto exigiria uma grande digressão e terá que ficar para outra hora (quem sabe daqui a mil anos, anos do ‘Senhor’ é claro). Outras coisas reforçam a teoria de que a narrativa bíblica não é cronológica como no versículo 5 do capítulo 2, em que é dito que nenhuma erva ainda havia brotado, mas no versículo 12 do primeiro capítulo o texto afiança que “a terra produziu relva, ervas que produzem sementes”. Quando Deus tem a idéia de dar uma companheira ao homem não é estranho que antes de pensar na mulher exista a sugestão de que ao nomear todos os animais do paraíso (tarefa extremamente exaustiva e demorada, temos que reconhecer, mesmo que a cada animal apresentado o nome já estivesse na ponta da língua de Adão), que ele, Adão tenha procurado entre estes animais que nomeava alguma fêmea que lhe servisse para esposa? Ou Adão era muito idiota e ao ser solicitado que nomeasse os animais ele tivesse achado que deveria tentar aproveitar para encontrar a sua companheira ente eles, ou a idéia de zoofilia era algo considerado natural, como vemos que era a de poligamia e mesmo incesto, quando Lot ‘traça’ as suas duas filhas adolescentes (Lembremos que Lot, era o único varão justo que foi poupado da destruição de Sodoma e Gomorra. Que ele tinha o Varão ‘ajustado’, mesmo, supostamente bêbado, não se pode negar, já se era justo, no sentido de íntegro, não estou muito certo depois que ele me come as próprias filhas!) Mas voltando ao Adão, temos de dar um voto de confiança e tolerar a sua estupidez em querer achar companheira entre os animais de outra espécie que não a sua, pois afinal ele não havia ainda ingerido a fruta do conhecimento e então era um bobalhão e um pau-mandado de Javé. Lógico que existe explicação pra tudo isso e que muitos teólogos atribuiriam estes fatos até aqui demonstrados, bem como a confecção da mulher não de barro, mas de uma costela de Adão, às clássicas ‘tipificações’ e significados ocultos ou revelados, que tem, para os crentes, relações com outros adventos ocorridos posteriormente no velho e no novo testamento. Certamente este artifício ‘mágico’ resolve qualquer questão que possa parecer ilógica. Mas se alguém não crê nisso, pode se permitir, no mínimo, alguma estranheza. Ou seja, ninguém poderia ser condenado por encontrar contradições no texto bíblico e por isso os achar um amontoado de absurdos. Caminhemos um pouco mais. Caim se arrepende, mas o Deus misericordioso não o perdoa. Caim diz (gen.4.13) “minha culpa é grave e me atormenta”. Apesar de Javé advertir que quem matar Caim será castigado sete vezes, isso não é um perdão pelo arrependimento de Caim. Era de se esperar que ele fosse perdoado pelo Deus misericordioso, que, em última análise, foi responsável por ele matar o irmão uma vez que não aceitou sua oferta e aceitou a de Abel (ah... lógico que temos as tipificações: Abel escolheu sacrificar o cordeiro [Cristo], enquanto Caim quis servir a Deus com seu próprio esforço [os produtos que tinha plantado]). É uma pena também ficarmos sabendo que alguns músicos são descendentes de Caim, o primeiro assassino oficialmente registrado: “todos os tocadores de lira e flauta”. Sorte dos violinistas e guitarristas de Heavy Metal, que devem descender de algum outro personagem não revelado. Querem alguns religiosos mais rígidos que os últimos são crias do próprio Satã (que ainda não entrou na história) e os primeiros, quando tão virtuosos como Paganini, também. Bom, no inicio do capítulo 6 do livro de Gênesis, está escrito: “quando os homens se multiplicaram sobre a terra e geraram filhas, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas, e escolheram como esposas todas aquelas que lhes agradavam.” Realmente há uma problemática nesta parte. Primeiro ela remete a uma pergunta que para os crentes é absurda e digna de chacota, mas que é para quem raciocina sobre o tema uma pergunta perfeitamente razoável: com que mulheres Caim e posteriormente Set se casaram já que não se noticiou a criação de outras pessoas de famílias diferentes? (E nem da mesma família. Se elas existiam e não foram mencionadas é natural pensar que o texto não é completo e se não é completo pode não mencionar muitas outras coisas, o que da margem para uma interpretação bem mais elástica de todas as vontades do Senhor). E como existiam estas mulheres que deram à luz todos os descendentes anteriores à afirmativa: “quando os homens se multiplicaram sobre a terra e geraram filhas...”. Uma vez que a afirmativa nos faz pensar de maneira lógica que anteriormente a ela não haviam sido geradas filhas (mulheres). Outra questão intrigante é a diferenciação que se faz entre filhos de Deus e filhos dos homens. Pois ao dizer que os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas, então estes filhos dos homens não eram filhos de Deus? Deus não é pai de todos os seres humanos da criação? Logo abaixo (6.4) é reafirmado “quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e geraram filhos, ‘os gigantes habitavam a terra’, surge uma tentadora possibilidade de analogia com a mitologia grega. Estes gigantes seriam os Titãs aprisionados por Zeus? Querem algumas interpretações de criacionistas da ‘terra jovem’ que estes são os dinossauros e asseguram que estes répteis coexistiram com o homem (sem comentários). Ainda mais força tem a possibilidade de analogia com a mitologia grega se pensarmos no complemento logo abaixo que diz que ‘estes foram os heróis famosos dos tempos antigos’. Que heróis? Os heróis que eram, segundo a mitologia grega, filhos de deuses com mortais? [A bíblia que utilizo para estas releituras é uma edição pastoral (ed. Paulus). Um livro chamado por alguns de “bíblia católica’ por conter alguns livros a mais do que a bíblia ‘evangélica’]. Aqui este assunto levaria a mais uma grande digressão para demonstrar que, na realidade, a tão querida bíblia pós reforma protestante não tem nenhuma vantagem, uma vez que só tem livros a menos e, quer queiram ou não, eles foram todos, os aceitos e os não aceitos pelo protestantismo, arbitrariamente escolhidos, em detrimento de inúmeros outros, pelos chamados ‘pais da Igreja’ nos concílios (os padres corruptos do catolicismo), baseando-se em critérios que eles julgavam condizentes tanto com a sua ideologia de fé (a fé que interessava a eles que todos tivessem) quanto com as condições políticas. Mas como não vamos progredir nesta análise, continuemos resumidamente a falar sobre as ‘anomalias’ do início do texto ‘sagrado’, o gênesis. Uma das coisas que me faz crer na fidedignidade da tradução que utilizo para estes comentários é que quando o texto converte os côvados da Arca de Noé em metros, não deve errar. Pelo menos não de maneira tendenciosa, pois se quisesse fazer isso registraria medidas muito mais robustas, pois as que ele registra parecem humanamente, ou melhor, “animalmente” falando, impossível de caber toda a bicharada da terra, pois que são uns míseros ‘cento e cinqüenta metros de comprimento’, ‘vinte e cinco metros de largura’ e ‘quinze metros de altura’. Se a argumentação for que apenas foram embarcados os animais da região em que Noé vivia (o que parece lógico, já que ele não deve ter ido, por exemplo, até a Groelândia para buscar um casal de cada espécime nativa daquelas paragens). Mas supondo que ele fosse? Iria na Arca, ou em outra embarcação? Mas se ele somente embarcou os animais que existiam ali pelo oriente médio, então não tem como negar que houve evolução das espécies, pois como explicar que tenhamos hoje em dia capivara, onça-pintada, ararinha azul? É obvio que muitas espécies de animais que hoje existem nos habitat mais diversos não teriam sobrevivido nas condições climáticas do oriente médio, pelo menos não sem uma intervençãozinha divina. Para não nos alargarmos nestas questões não entraremos em detalhes sobre a vegetação, bem como sobre as espécies aquáticas de água doce que é certo que não poderiam ter sobrevivido à mistura das águas doce e salgada, salvo é claro outro empurrãozinho do sempre bom, atento e camarada, Javé. Queria também entender uma outra coisinha. O que é ‘sopro de vida’? Pois o texto diz que Noé entrou na Arca com um casal de cada criatura que tinha sopro de vida. Se ‘sopro de vida’ é qualquer organismo vivo, e não somente os que respiram por pulmões, então podemos incluir bactérias e outros microorganismos. Quem sabe o vírus da Aids já não estava presente em algum macaco lá dentro da arca? E porque diabos criar um animal tão parecido com o homem como o macaco? Só pra confundir? Até lembro da música do Chico Buarque: “Deus é um cara gozador, adora brincadeira...” Mas em gen 7.22 diz que “morreu então tudo o que tinha sopro de vida nas narinas”, isto é, “tudo o que estava em terra firme.” Ora, primeiro, se estava em terra firme, não podia ter afogado, mas por outro lado, como alguma coisa poderia estar em terra firme se estava acontecendo um dilúvio? No capítulo 9.13 é afirmada a aliança de não mais o mundo ser destruído pela água. Isso é obvio! O mundo pode acabar é pela falta de água! Aliás, bons tempos eram aqueles que podíamos nos dar ao luxo de sermos destruídos pelo excesso de água! Deus diz então que colocaria o seu arco nas nuvens. Devemos concluir que antes do dilúvio não chovia, pois se chovesse e depois o sol aparecesse, é inevitável que apareça o arco-íris que é um fenômeno causado pela dispersão da luz do sol que sofre refração pelas gotas de chuva. Qualquer um que tenha uma mangueira que espirre água e um pouco de luz do sol, pode produzir um míni arco-íris no seu jardim e brincar de Deusinho. Para terminar não poderíamos deixar de notar que ele, Noé, e sua família foram salvos da destruição pelas águas, por serem bons e não terem o mau comportamento dos outros, os quais foram deixados pra morrer. Aqueles que não mereceram a salvação deviam ser no mínimo maliciosos, devassos (sorte de Lot, que ainda não tinha nascido), e com certeza uns beberrões inveterados. Pois bem, as águas abaixam, a arca estaciona no monte Ararat, Noé sai com sua família, solta a bicharada, então o que ele faz? Planta uma vinha, faz vinho enche a cara e fica nu na sua tenda, provavelmente dançando algum ‘Hit Parade’ gospel da época. Aí sem querer um de seus filhos o vê peladão. Então o velho amaldiçoa este filho e o condena a virar escravo dos outros seus irmãos somente porque ele acidentalmente o viu pelado. Pode?





Lições Teo-ilógicas 2


Texto a ser inserido entre os versículos 25 e 26 do primeiro capítulo do gênesis para justificar, entre outros, os fósseis de peixes com patas encontrados em 2006 e 2008.


25.1-E na madrugada de terça para quarta-feira Deus criou os peixes com patas.
25.2-E viu Deus que os bichos eram esquisitos pra chuchu.
25.3-Deus então escondeu os peixes com patas de Adão e de sua companheira Eva que ele lhe havia dado por esposa, e de toda a descendência deles para que estes não ficassem escandalizados.
25.4-Colocou, pois, Deus os peixes com patas embaixo de toneladas de pedras de centenas de côvados de altura para que ali permanecessem ocultos pelos séculos dos séculos.
25.5-E vendo Deus que isso era divertido passou a esconder todos os animais estranhos ao homem debaixo de rochas.
25.6-De várias sortes e tamanhos os escondeu.
25.7-Animais semelhantes a aves e répteis os escondeu e animais com crânio semelhante ao de grandes macacos e do homem, mas que não era igual a nenhum e nem outro, os escondeu.
25.8-E assim o fez porque Ele é o Eu Sou.
25.9-E ordenou Deus que houvesse mais uma tarde e manhã de mais um dia do paraíso.



Lições Teo-ilogicas 3



Os filmes podem pintar uma imagem de predador "vilão" do Tiranossauro Rex. Mas uma coisa nunca vou aceitar. Dizerem que ele era um praticante da masturbação. Isso é uma calúnia!
Porque? Ora, é fisicamente impossível. Olhem as patinhas curtas do bicho! Se ainda fosse um jumento. Mas na falta de evidência dos dotes de espécies extintas a milhões de anos, não arredo um pé de minhas convicções, o Tiranossauro Rex não era punheteiro! E tem algo mais que precisa ser esclarecido. Antes de Cristo vários homens que eram corretos não poderiam ser condenadas à danação eterna. A Igreja Católica, sabiamente, inventou um tal de 'Limbo' para meter estas pessoas, já que não poderiam ir para o inferno. Mas chegou o Ratzinger e resolveu fechar as portas do 'Limbo' da mesma maneira mágica que seus sucessores as haviam aberto. Aí que entra os Tiranossauros Rex. Eles são anteriores ao dilúvio, logo se não se masturbavam, eram puros, sem pecado, e como não foram salvos na arca deviam estar no 'Limbo', é claro, local agora desmantelado. Sendo assim é lógico concluir que estes animais foram para Céu, juntamente com todas as outras criaturas, e como os grandes filósofos gregos e mesmo os profetas do judaísmo, que no 'limbo' estavam. E foram para o Céu, é obvio, por direito canônico retroativo, uma vez que não podiam, por simples fechamento de uma repartição, serem enviados ao inferno.
Tenho dito.





Lições Teo-Ilogicas 4





O Que Pensavas Deus Neste Momento?


Pensas no poder que um ser que é Deus pode ter, e que de fato tem segundo querem os crédulos e segundo para eles rezam os pergaminhos. Deveras é um grande poder, um poder ilimitado que pode todas as coisas e que comanda as leis naturais de todo o universo, ainda que, se não quiser, não necessite de pensar neste comando todo o tempo, mas somente deixa-o agir desde a harmonia das órbitas em todas as galáxias até o minúsculo ovo chocado pela lagartixa. Agora de acordo com este pensamento, ousa por um minuto imaginar-te tu mesmo um deus ou O Deus, o Eu Sou. Imaginas que estás a arquitetar o corpo fisiológico da sua criatura que está destinada por ti a ser a primeira dentre todas as demais, pois que até os anjos ambicionam ser como estas. E neste momento sublime de criação, no qual podes escolher fazer o homem da forma que quiser, pois tu és onipotente, tens a facilidade mágica que desejar para que qualquer função deste corpo humano seja da forma que determinares e responde com a maior sinceridade que puder, a qual, eu espero, seja uma total sinceridade: o que farias tu com o destino de partes descartáveis dos alimentos que serão ingeridos pelo homem para a alimentação? Faria com que estas sobras se transformassem simplesmente em algum resíduo inócuo que fosse se mesclar com o sangue, ou com os tecidos ou ossos, faria talvez com que se mudasse em um leve ar que seria expelido através de, por um exemplo, um bocejo, ou escolherias fazê-los transformar em merda e obrigar os seres humanos ao infame ato de cagar? Que desculpássemos em sua criatura este fato em um homem grosseiro e rude, mas como aceitar esta prática, e sabê-la existente também para Gisele Bündchen, Charlize Theron, Cameron Dias, Penélope Cruz? Mas ao fim das contas, para qualquer criatura, não seria melhor que outro método tivesse sido escolhido? Confesso que se fora eu Deus assim agiria sem nenhuma sombra de dúvidas.


Noções Elementares de (Teo)-Ilogi[co]smo - 1

A perfeição admite acréscimo ou subtração? Ela necessita de qualquer coisa para complementá-la ou de qualquer retoque? Uma escultura perfeita pode sofrer algum aumento de ornamentação ou alguma forma de redução sem alterar a sua perfeição? O homem caso atinja a perfeição por qualquer meio poderá ter depois disso qualquer tipo de descontentamento ou faltar para ele qualquer coisa? Poderá ficar triste ou ter depressão? Se a resposta para estas questões acima é ‘não’, devemos entender que a perfeição se basta a si mesma, e que se supre e se auto-satisfaz. Algo perfeito jamais poderia ter qualquer tipo de necessidade. Estando acordados nestes pontos proponho as seguintes perguntas: Deus é perfeito? Ele já o era antes da fundação do universo e da criação da terra e de todos os seres, inclusive o homem? Se a resposta para estas perguntas é ‘sim’, proponho mais algumas questões: porque, então, Ele precisou criar todas as coisas, e particularmente o homem? Sobretudo se não precisava fazê-lo, já que concordamos que a perfeição não admite necessidades. Se não necessitava disso e se é onisciente e como tal tem conhecimento prévio de todos os males que seriam impingidos às suas criaturas, porque ele as fez? Já que concordamos que um ser (ou objeto) perfeito não pode necessitar de nada, somente podemos concluir que se Deus fez o homem e todas as outras criaturas, o fez por capricho e maldade, uma vez que já sabia de todos os sofrimentos que seriam impostos a elas e de tantos, que não satisfeitos com os ensinamentos ortodoxos e por isso jamais os aceitariam, não teriam esperança de redenção, estariam ou estão irremediavelmente perdidos, condenados a mais sofrimento e castigos, após os já vividos na terra, tudo isso por terem vivido uma vida que não pediram e que não era necessária. A salvação concedida por Deus, ainda que justificasse todo o sofrimento anterior ao Paraíso prometido, para muitos é vã, e somente pode ser idealizada por uma mente maléfica. Ah!...não era para ser assim? Quando depois de criados, homem e mulher é que foram os responsáveis pela sua própria perdição? Porém, Deus já não sabia que isso iria acontecer e mesmo sendo perfeito e não necessitando de nada fora de si que o complementasse (pois do contrário teríamos de admitir que Ele não é perfeito), ainda assim decide criar o universo, a terra em particular, e sobre ela todos os seres? Por que o fez? Se não por necessidade, somente resta (depois das conclusões sobre a perfeição) admitir que, se ele o fez, foi por pura crueldade e por simples diversão. Sob estas condições acho mais justo para com Deus não crer Nele, sabê-lo inexistente.